Coletivo Indra

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Sociedades estáveis e sociedades de crise diante da pandemia

Nós podemos classificar as sociedades em duas categorias: estáveis e de crise. Em linhas bastante gerais, as sociedades estáveis se organizam a partir da tradição. O presente se sustenta no passado. As pessoas buscam as alternativas na tradição, os valores do passado respondem as demandas do presente.

Nas sociedades de crise, existe algo próximo de sentimento generalizado de anacronismo. As sociedades de crise rezam a cartilha da modernidade, o novo é o que orienta as ações. As alternativas inéditas são incansavelmente perseguidas; inovação, empreendedorismo e criatividade. “O futuro será melhor” cantam todas as ladainhas da sociedade de crise, sejam religiosas ou políticas – o voto é sempre na esperança, algo que está porvir.

De certa maneira, nas sociedades estáveis, o futuro não existe. Não temos algo melhor por esperar; o melhor está presente no aqui e no agora. Nesse modelo explicativo, sociedades estáveis não intimam sujeitos a resgatar alguma coisa perdida ou a superar seus limites. Ailton Krenak e Antônio Bispo dos Santos partem de sociedades estáveis.

No Brasil, os povos originários e quilombolas vivem padrões civilizatórios semelhantes, seus modelos são de estabilidade cosmológica. Por isso Ailton Krenak escreveu que O amanhã não está à venda. A respeito do confinamento social devido a crise sanitária global de 2020, Krenak disse: “Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro”. Bispo dos Santos já tinha reclamado que, as chamadas sociedades de crise, insistem em acumular coisas desnecessárias e projetar a humanidade numa falta absurda.

COMO AS SOCIEDADES DE CRISE RESPONDEM OS DESAFIOS DE UMA PANDEMIA EM ESCALA GLOBAL?

Mesmo com informações científicas consistentes, o dilema vida ou economia parece permanecer para alguns. Nesse contexto, a vida não é mais importante do que alguns padrões de comportamento autodestrutivos. As sociedades de crise produzem pessoas que caminham para o precipício. Por estranho que pareça, a defesa de ideias que colocam a vida em perigo, aumentando os riscos de morte compõe as raízes dessas sociedades. Biopolítica e necropolítica são desdobramentos de uma maneira de interpretar a realidade que parece ser intransponível nas sociedades de crise. Enquanto, por incrível que pareça, as sociedades estáveis que são capazes de adaptaram-se às mudanças, deixando para trás o que não é necessário para seguir a jornada. 

Não sabemos o que virá diante de uma pandemia em escala global. Mas, sabemos de uma coisa: as sociedades estáveis têm algo a ensinar, mesmo que estejam a séculos na mira das sociedades de crise. Foram estas que disseram que aquelas tinham coisas faltando. Só civilizações muito adoecidas acreditaram e acreditam que têm algo mais especial para oferecer, leia-se vender, para outras. Nos contextos estáveis, a recomendação é bastante simples, a natureza está pedindo que a humanidade pare por algum tempo de se movimentar e isso é imperativo e inegociável. 

Renato Noguera

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