Coletivo Indra

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A arte de curar em medicina

“Os médicos receitam remédios que pouco conhecem para curar doenças que conhecem menos ainda em seres humanos que desconhecem completamente.”

Voltaire

Hahnemann no seu primeiro parágrafo nos diz:

“A única e nobre missão do médico é curar, ato que consiste em restabelecer a saúde ao indivíduo doente”.

Sua missão, não é portanto, formar os chamados sistemas, mesclando ideias vazias e hipóteses sobre a natureza íntima dos processos vitais e sobre a origem das doenças no interior do organismo. Não é sua missão também apresentar centenas de explicações a respeito dos fenômenos mórbidos e suas causas, utilizando palavras incompreensíveis e expressões abstratas afetadas e pomposas, com aparência erudita, para impressionar os ignorantes, enquanto os doentes suplicam por ajuda. Porém já é tempo para que todos que se dizem médicos deixem finalmente de enganar a humanidade sofredora com palavrório destituído de conteúdo, e comecem, de uma vez por todas, a agir, isto é aliviar e curar realmente”.

É preciso que se estabeleça uma relação médico paciente. Esta relação surgiu juntamente com a medicina hipocrática, cuja meta era o puro benefício humano, tendo em vista a pessoa e não simplesmente a doença. Esta relação é constituída de processos psicossociais complexos regulados finamente entre estes dois atores.

Esta  interação entre paciente e médico não está relacionada apenas com a satisfação durante a visita, que, por si só, é complexa, mas também com a adesão ao tratamento. Entre os vários aspectos que compõem a relação médico paciente, está, a empatia, a ética e o respeito pelos envolvidos nessa relação. 

A EMPATIA ENTRE MÉDICO E PACIENTE É IMPORTANTE PORQUE DEIXA O ÚLTIMO MAIS SEGURO E DISPOSTO A INFORMAR COM MAIS DESENVOLTURA SEUS PROBLEMAS, SINTOMAS E DÚVIDAS. 

O tempo que se estabelece a familiaridade, a confiança e a colaboração do paciente têm importância fundamental para a efetividade do tratamento. O médico precisa ter uma filosofia de vida para entender seu papel na medicina, para poder entender seu paciente como sujeito e não como objeto.  Hahnemann fala que é preciso se colocar num ponto neutro entre o objetivo e subjetivo. 

Para o conhecimento sensível e empírico do meio ambiente próximo ou do Universo, é necessário um contato entre o sujeito observador e o objeto observado. Esse contato se dá através dos sentidos, pela sensação e percepção. A sensação ainda não é um conhecimento, mas uma reação biológica do órgão sensível face ao meio ambiente. Daí seu caráter subjetivo.

É preciso saber ouvir o relato de seu paciente.

“O exame individualizado de um caso de enfermidade, não exige do médico mais do que ausência de preconceitos e sentidos perfeitos, atenção ao observar e fidelidade ao traçar o quadro do enfermidade”

(Parágrafo 83 de Hahnemann)

A consulta é o meio utilizado para se conhecer a história daquele que nos bate à porta, em sofrimento em busca de alívio para seus males. O que importa ao médico é conhecer a pessoa através da sua história. Neste encontro entre estes dois atores, convertemos aquele homem desconhecido, que é um enfermo, em um paciente pelos gestos de acolhimento que deverão transpirar a nossa disponibilidade em atendê-lo, em acolhê-lo em dedicar-lhe nosso conhecimento técnico e sobretudo humanismo para entendê-lo e aceitá-lo. Avaliar este ser na sua totalidade. Somos seres com corpo e alma.

O estado íntimo de acolhimento é fruto da meditação sobre o trabalho médico e da compreensão do enfermo e da enfermidade. Pois com a reflexão acurada em torno desses pontos o médico irá incorporando à sua maneira de ser o entendimento mais amplo da vida, a visão do doente, não como alguém que apenas tem sintomas físicos ou mentais reativos, mas antes como uma pessoa que, primariamente, sofre pela sua condição e natureza humana, e por causa disso reage, fazendo surgir as doenças, que cumpre ao médico também acolher como parte de um quadro geral e único - sua vida.

A partir deste trabalho interno se desenvolve a sensibilidade, elemento fundamental para criar o ENCONTRO entre paciente e médico e predispô-los para uma relação singular, que em si é terapêutica.

Esta formação, que é ensinada na Homeopatia, vemos que está fora das universidades no ensino da medicina, afastando o médico de seu paciente.

O relato de uma aluna:

"Sempre tive a sensação de esquartejamento dos docentes. A pós-graduação quer carregar um braço, a graduação quer carregar outro, a assistência quer levar uma perna, se bobear o cara fica esquartejado. Todo mundo quer que a pessoa seja excelente naquilo que faz nessa área, como se as pessoas pudessem fazer tudo ao mesmo tempo, serem boas em tudo ao mesmo tempo”. 

Estudos sobre empatia, nas opiniões dos docentes é de que “Empatia ajuda muito, mas talvez a questão da técnica seja mais determinante. Você pode tratar tecnicamente bem, conhecer muito da doença sem estabelecer uma empatia tão boa com o doente”. Empatia foi relacionada mais à qualidade do que ao sucesso da intervenção médica, “um adjuvante importante ao tratamento” e ao manejo do paciente.

Reformas curriculares que reforcem positivamente o treinamento de habilidades voltadas à consolidação de práticas e à vivência de uma relação médico paciente mais salutar são necessárias dentro do corpo docente e discente das universidades médicas, com a aquisição de novos conhecimentos nas áreas de psicologia e educação médica. 

Precisa haver uma mudança do paradigma de ensino, voltar a Hipócrates e a Hahnemann, para que o processo de cura de fato aconteça, de dentro para fora do mais profundo para a superfície, e para que nós seres humanos “possamos atingir os mais altos fins da existência “

(Hahnemann)

Hayde Haviaras

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