Coletivo Indra

View Original

A Covid passou por aqui!

Hoje, no momento que escrevo esse texto, exatos 14 dias se passaram desde os primeiros sintomas, e o teste que deu positivo para Covid-19. Um misto de susto, pavor e até alívio (confesso) passavam pelo meu corpo e mente, no momento da descoberta. Mas parece que estamos fadados a ter contato com esse vírus de alguma forma: ou tendo contato direto ou indireto. Ou pegando ele ou conhecendo alguém que pegou.
Foram dias terríveis de prostração, dor e muito medo. Estar em constante vigilância para não perder algo que não se vê, não se sente assim tão facilmente de maneira palpável, mas é imprescindível: o ar.
No meu caso, tive uma febre estranha e dores nos globos oculares, bem característicos de gripe. Fui fazer um teste rápido e positivou quase instantaneamente.

“Sou paciente oncológica e isso era um belo agravante .”

Há alguns meses, encontramos um nódulo no pulmão que está ainda em tratativas de descoberta para saber se é algo perigoso ou não, em suma, estava eu uma paciente oncológica com um nódulo no pulmão, com um vírus que devasta o pulmão e as vias aéreas.
Não havia muito que fazer, muito descanso, líquido e cuidados. E assim fiz. Fizemos na realidade. Meu namorado que mora na mesma casa que eu também pegou.

Eu não parava de pensar em todo mundo que infectei sem saber, nos pequenos gestos, toques e lugares que devo ter infectado, assim como foi comigo, numa dessas escapadelas para um supermercado, ou mesmo um evento “com todos os protocolos”.

Não há o que o fazer, está no ar, nas coisas que tocamos e ingerimos. Quando digo “não há o que fazer”, falo da presença do vírus, não de evitar contato e proliferação. Isso sim há o que fazer. Ficar em casa e higienizar-se quase que compulsivamente.
Não posso deixar de falar de privilégios. Todos os meus nesse caso: poder pagar por um exame, poder ficar em casa tranquila por ter uma casa, poder pagar minhas contas e ficar ociosa sem trabalhar. Poder estar viva ainda que com todas as adversidades trazidas pelo vírus e pelas pessoas que nos matam e discriminam. Eu pensei muitas vezes em “será que vou morrer”?

Mas uma afirmação vinha dentro de mim e dizia, forte como num mantra

“se a transfobia, o racismo e o câncer não te mataram, não vai ser isso né”?

Parecia aquelas frases “animadoras” da minha falecida mãe. E certamente era ela, falando.

Quis dividir com vocês isso, para mostrar que todos estamos à mercê de contrair esse vírus, mas nem todos de passar incólume por ele. Nas duas semanas que estive mais adoentada, perdi em média uma pessoa a cada três dias. Gente desaparecendo aos meus olhos e numa rapidez assustadora.

Não é porque eu passei que todos passarão. Não é porque estou viva que outros também ficarão. Não é para assustar é para conscientizar. Eu sei.. Falar sobre isso é algo que ninguém aguenta mais. Mas se falando a todo momento, as pessoas fazem ouvidos moucos, imagine se não falamos.

Agradeça sempre pela vida. A tudo que você tem e principalmente as coisas que você não tem como vírus e doenças.

Agradeça e agradeça mais pelos livramentos não pelos ganhos.. Já parou pra pensar nisso?

Hoje fui eu, amanhã pode ser você.
Vida que segue.
Vida, que?
vida!

VALÉRIA BARCELLOS

Instagram @valeriabarcellosoficial

Siga no instagram @coletivo_indra