Coletivo Indra

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A Direita e a Esquerda: a Bússola Política

Bússola Política

A partir dos avanços das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a Política ganhou um novo relevo. Os debates em redes sociais ganharam uma frequência e velocidade banhada em volumes indeterminados de informações. Ao invés de poucas fontes de informação especializadas, as emissoras “não certificadas” passaram a se multiplicar de uma maneira fora do comum. Não eram mais jornalistas e analistas com formação  sólida em Ciências Humanas e/ou Ciências Sociais Aplicadas falando de Política. Mas, todo mundo passou a falar e “formar opinião”.

Um dos assuntos que merece atenção foram os xingamentos em tempos de eleições dividindo a sociedade em “direitopatas” e “esquerdopatas”. A briga entre coxinhas mortadelas foi tônica do cotidiano das campanhas eleitorais, fazendo até pessoas da mesma família desentenderem-se. Pois bem, o que parece ter escapado às agressões verbais e, em alguns casos, físicas, calúnias e difamações foram as definições básicas sobre os sentidos de Direita e de Esquerda. Muitos diálogos em redes sociais parecem ser uma conversa cheia de ruídos em que as pessoas que brigavam não estavam falando das mesmas coisas. 

AS PALAVRAS “ESQUERDISTAS” E “DIREITISTAS” NÃO SÃO XINGAMENTOS.

Um bom debate político e devidamente qualificado pode servir para desacreditarmos de saídas fáceis, as respostas maniqueístas que acham que um lado político é o “Bem” e o outro é o “Mal”.  Não estamos falando de anjos ou demônios, mas, de gente. O assunto não é religioso; se trata de política. Não devemos incorporar traquejos de fé para isso, o que não significa que os debates não sejam apaixonados.

Eu quero fazer uma breve contribuição para o debate qualificado definindo, se é que ainda é possível, as categorias políticas Direita e Esquerda. Primeira resposta: sim. Sem dúvida, Direita e Esquerda são categorias políticas legítimas, porque elas reúnem princípios através dos quais partidos políticos, movimentos sociais e vários setores organizados da sociedade trabalham para produzir um ideal de mundo. Porém, precisamos de algumas definições.

Foi na França em de 1789 que as expressões surgiram. Na Assembléia Nacional durante o processo revolucionário, a disposição era a seguinte: à esquerda sentavam-se adeptos da mudança do regime, à direita estavam sentados os que não queriam mudanças. No centro ficavam aqueles que podiam oscilar para um lado ou outro de acordo com as circunstâncias. Neste contexto, Esquerda estava a favor da mudança mais radical do regime, aqui coube a noção de revolucionária. Enquanto, a Direita ficou vinculada aos ideais conservadores. Mas, essa definição é insuficiente diante de fenômenos complexos contemporâneos.

No século XX, o cientista político italiano Norberto Bobbio (1909-2004) sistematizou da seguinte maneira: Esquerda é o lado da Política que busca promover reformas que afetam a justiça social, a ênfase é no quesito igualdade. Direita é o lado da Política em que as medidas defendidas são para aumentar a liberdade individual. Essa definição já é mais adequada; porém, ainda precisamos melhorar com a inclusão de alguns detalhes. Por exemplo, a legalização do casamento de pessoas do mesmo sexo pode ser incluída como uma medida de aumento da liberdade individual? Então, seria uma pauta da Direita? Mas, não são partidos de Esquerda que defendem essa medida?  

O ativista e pensador político estadunidense David Nolan (1943-2010) fez uma bela sistematização para resolver alguns problemas. A definição de Bobbio se aplica ao campo da economia. Nolan montou um plano que previa resolver dúvidas se uma medida era de Esquerda ou Direita; mas, apresentou limitações porque vinculava esta mais ao conservadorismo.  Nolan foi criticado porque em seu quadro a Esquerda foi representada por alta liberdade individual e baixa liberdade econômica. Enquanto a Direita era o seu inverso, a controvérsia estava em justamente atribuir a esse lado da Política baixa liberdade individual. Um quadro posterior ao plano de Nolan que parece bem interessante foi a Bússola Política (imagem deste texto).

O que produz dois eixos: um horizontal e outro vertical. Neste as questões das liberdades políticas e individuais estão inclusas fazendo do ponto superior o grau máximo de supressão dessas liberdades, o ponto autoritário no ponto inferior está o libertário, grau máximo de liberdades individuais. No eixo horizontal temos quanto mais à Esquerda mais intervenção do Estado na economia, no outro extremo, os princípios para uma economia sem participação estatal. Ou seja, à Esquerda um Estado intervencionista para garantir justiça social e do outro: Estado liberal para garantir a liberdade econômica e auto-regulação do mercado.

De olho na ilustração da Bússola Política podemos compreender que é muito mais complexo do que parece à primeira vista. Existem duas dimensões, uma puramente econômica (eixo horizontal) e outra que está no registro das liberdades individuais (eixo vertical). Um partido político pode ser liberal na economia e conservador nos costumes. Outro pode ser liberal nos costumes; mas, crítico de medidas liberais na economia. Os matizes e locais de posicionamento na Bússola são diversos. Sem definições prévias qualquer bate papo pode virar uma péssima discussão.

Renato Noguera

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