Coletivo Indra

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A diversidade que transforma

CONHEÇA A HISTÓRIA DE DOIS EMPRESÁRIOS QUE EMPREENDERAM COM SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS E CONTRIBUEM PARA O MERCADO GERIDO PELO PINK MONEY!

Transformar alguma ideia em realidade não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se trata de novos negócios. É preciso muita pesquisa e um bom plano estratégico para alcançar o sucesso, empreendendo com suas próprias experiências. E quando uma história não apenas envolve o idealizador, como também uma comunidade diversificada que busca mais visibilidade e respeito?

Este é o caso de Henrique Chirichella, 29, que em 2017 colocou no ar o site Logay, um e-commerce de produtos voltados ao público LGBTI.

Ele, que se formou em cinema, acha impossível falar sobre sua empresa sem contar um pouco sobre a sua vida, já que uma está atrelada a outra. Depois de anos no exterior, onde estudou e passou por um processo de auto aceitação, retornou ao Brasil e se assumiu homossexual para os pais. Ele trouxe consigo uma pulseira de couro com as cores da bandeira LGBTI. “Ela era uma espécie de amuleto, um símbolo e representação”, conta o empresário.

Mas foi ao perder o adereço e não encontrar por aqui outro para substituir que o jovem encontrou uma oportunidade de mercado ainda pouco explorada.

Com o apoio dos pais, o site não apenas se tornou um empreendimento para o empresário, mas um meio de dar acesso aos clientes à militância. Henrique deixa isso claro quando questionam a importância de seu negócio.

“Não quero lucrar com a causa, só quero que as pessoas se identifiquem com a representatividade e com a luta. E acima de tudo, que o produto tenha um significado para eles”.

Investir em mercadorias e serviços de nicho voltados para a comunidade LGBTI é uma boa aposta de negócio, uma vez que o chamado “pink money” (dinheiro rosa), ou poder de compra dessa comunidade, é alto. Segundo o levantamento da InSearch Tendências e Estudos de Mercado, esse público já movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano. Este perfil corresponde a pelo menos 18 milhões de brasileiros, de acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2010.

Diego Casmurro é outro empresário que cogitou apostar no ramo. Dono da Murro, uma empresa de produção executiva de desfiles e campanhas de moda, ele produziu um desfile apenas com mulheres trans para o estilista Ronaldo Fraga e com isso chegou a pensar em abrir uma agência de modelos para atender públicos alternativos, como o de transexuais e de drag queens. Mas a ideia não foi para frente, explica o jovem de 31 anos:

“Vi o poder que aquilo teve, mas as modelos foram todas absorvidas pelas grandes agências”,

Mesmo assim, Diego, inspirado pelas lutas sociais, busca levar mais oportunidades e visibilidade para seu público através da moda, com sua produtora, e da arte, por meio de seu alter ego, a drag queen Saory White. Para ele, a vestimenta é um grande veículo de comunicação que pode desconstruir padrões na sociedade.

Quando o assunto é homofobia no mercado de trabalho, tanto Henrique quanto Diego se deparam com algumas dificuldades. “Me disseram que nunca tinham visto um produtor de desfile e diretor criativo gay, como se orientação sexual definisse profissão”, conta Casmurro. Já Chirichella encontrou problemas com fornecedores e sentencia: “precisam saber que ser homossexual não define caráter nem ética”.

Apesar disso, ambos não se abalam e enxergam uma lenta evolução na mídia quanto ao modo como a comunidade é retratada, mas esperam um maior cuidado e atenção para, assim, tratarem os assuntos com a devida propriedade.

Depois dos sucessos das cantoras e drags Pabllo Vittar e Gloria Groove, e Ivana/Ivan (personagem trans de Carol Duarte na novela da Rede Globo, “A Força do Querer”), é fácil perceber que essas personalidades públicas não teriam o mesmo impacto se tivessem surgido há algumas décadas.

Eles caíram nas graças do povo e ganharam destaque justamente por quebrarem paradigmas em um país em que, em 2018, a cada 20 horas um LGBTI foi morto ou cometeu suicídio, de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB).

Em contrapartida, Diego, que se monta há 13 anos, destaca que apesar do notável sucesso da drag americana RuPaul e de seu reality show “RuPaul’s Drag Race”, em que drag queens competem pelo título de “America’s next drag superstar”, é importante que a sociedade não rotule os performistas. “Muitos acham que só é drag se chegar mais ao feminino e se esquecem da arte e de que ela não tem parâmetros”.

Os dois empreendedores não se veem como exemplos, mas estão desbravando caminhos para que um dia a sociedade se torne mais justa, igualitária e respeitosa. Sobre o futuro, o fundador da Logay declara: “na história gay, sou apenas mais um”, evidenciando que quando o diferente deixar de ser taxado como esquisito, eles serão vistos como todos os outros.

Giulia Ghigonetto

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