Coletivo Indra

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A falsa polarização eleitoral

Eu não tenho dúvida que um dos temas que vou explorar bastante aqui esse ano são as eleições. Por motivos óbvios. Se o pleito de 2018 é considerado bastante peculiar nas análises e estudos, sendo ainda explorado em diversos trabalhos acadêmicos, esse ano a questão segue totalmente aberta, não existindo um vencedor declarado, com tamanha antecedência como também no que diz respeito as estratégias de campanha.

A internet manterá o peso que teve? A televisão vai ser importante? O perdedor irá aceitar o resultado? Ao contrário de fazer prognósticos, que são sempre difíceis e podem se mostrar errados com o desenrolar dos fatos, principalmente quando falamos com tanta antecedência, é mais seguro olhar o que temos até aqui.

Parte dos grandes veículos de comunicação defendem a existência de uma polarização, que na visão que pretendem transmitir na sociedade seria equidistante entre o ex-presidente Lula, pré-candidato pelo Partido dos Trabalhadores e o atual presidente, recentemente filiado ao Partido Liberal, comandado por Valdemar da Costa Neto, aquele que foi condenado na ação penal n.º 470 do STF, agora em liberdade após cumprir pena por corrupção.

Além disso, buscam dar relevo àqueles que se apresentam como pré-candidatos pela centro direita, no que convencionou-se a chamar de “terceira via”, a qual além de não se definir em torno de uma única candidatura, estas sequer conseguem romper a barreira dos dois dígitos nas pesquisas: outra parte da imprensa as trata por “via do acostamento”, por esse motivo.

Os grandes veículos de comunicação refletem a opinião do grande capital, nacional e internacional. Mesmo depois do desastre da atual gestão, marcada pela incompetência de seus próceres, do ataque frequente a instituições e do desmantelamento de órgãos participativos, da extrema incapacidade no combate e controle da pandemia do coronavírus, na diminuição da importância do país no cenário internacional, há quem prefira insistir nesse cenário, uma vez que as candidaturas à direita, que se apresentam de forma mais civilizada, estas que comem churrasco de garfo e faca, sem espalhar farofa pela roupa, não deslancham.

Na cabeça da elite financeira brasileira a escolha segue sendo muito difícil, como retratou a imprensa em 2018.

Não há nada mais falso do que comparar o ex-presidente Lula e o atual presidente, a despeito de todas as críticas possíveis e necessárias, que possam ser feitas às gestões do Partido dos Trabalhadores. Qualquer tentativa de comparar ambos como faces opostas da mesma moeda é de um reducionismo mentiroso que apenas favorece a degradação do povo brasileiro. É tão falso como opor nazismo e comunismo como ideologias equidistantes, como alguns tem alardeado por aí nos debates que tomaram conta da internet nos últimos tempos.

Quem o faz, age por duas razões: ignorância ou má-fé. Goste-se ou não, a esquerda do Partido do Trabalhadores representa o respeito às regras institucionais e a realidade da política como ela é, com todas as suas nuances e paradoxos, mas que tornam possível a implementação de um projeto que, no mínimo, olhe para os mais pobres e os retire da condição de fome. bolsonaro é a degradação da moral e da política, cujas regras e instituições atrapalham ao seu projeto e por isso devem ser destruídas.

Isso não parte só de sua cabeça, mas Steve Bannon, o ideólogo de Trump e que também inspira a nossa versão de autocrata sempre defendeu um cataclismo para recuperar uma verdade escondida sabe-se lá onde. O medo que parte da população tinha de um golpe à esquerda que se perpetuasse no poder foi, na verdade, defendido por bolsonaro naquele trágico 7 de setembro, onde também alardeou que não respeitaria as decisões de outro dos poderes da República.

Antes também já tinha dado mostras que que interveria de forma ilegítima no STF, como denunciou a Revista Piauí em março de 2020.

Tudo isso para dizer que devemos lembrar que não estamos num cenário normal, num processo eleitoral no qual há se mobilizará a sociedade em torno de se olhar para as instituições e a organização do poder para a escolha de um projeto por onde seguir, dentro de certos parâmetros.

Estamos lidando com a barbárie e a civilidade, e não apenas com projetos superficialmente opostos em suas ideologias. Não é a direita e a esquerda que seguem em disputa. É insistir na destruição, sem saber o que disso sobrará, contra a retomada da reabilitação da política na qual acordos e consensos mínimos em torno de certos assuntos possam ser obtidos.

O medo da política nos trouxe para o caos que enfrentamos hoje, por isso é preciso, ao contrário de demonizá-la, ocupar todos os seus espaços.

Arthur Spada

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