Coletivo Indra

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Ahimsa! Por uma cultura de não violência.

Ahimsa

Humanos, modo violento. Talvez este seja um dos piores estados vivenciados em nossos estados conscientes. E temos consciência das violências que ocasionamos? Violência econômica, violência verbal, social, discriminatória. Toda violência causa mal a alguém e certamente seremos vitimas da violência alheia. Nas entranhas dos pensamentos humanos residem as mais perversas maldades. Observe com atenção e você poderá se assustar com pensamentos inesperados.

Um conto budista japonês narra um garoto pedindo ao seu pai que pare de frequentar o templo por entender ineficaz. O pai propõe ao jovem que escreva cada pensamento, os mais ínfimos e secretos, durante quinze dias. O rapaz vê tal façanha como uma diversão. Logo nos primeiros dias, ele se volta ao pai em grande vergonha pelos pensamentos nunca expressados. O senhor encerra dizendo - entende que vou ao templo para meditar sobre mim mesmo? (extraído do livro A arte do dia a dia, de Gyomay Kubose). O Buda, a representação da iluminação, é o espelho que me faz enxergar dentro de mim e aponta como libertar daquilo que me causa sofrimento.

Shakyamuni se resplandece em sua meditação ao reconhecer com profundidade a vida humana. Percebe o quão é difícil ter inúmeras causas e condições em concordância para haver vida e que todos os seres são e estão interdependentes e interconectados.

A NÃO-VIOLÊNCIA PRESERVA VIDA POR SER RARA E PRECIOSA.

Durante sua meditação, Shakyamuni é tentado por Mara atacado por flechas de tentações. A compaixão de Buda era tão surpreendente que as transformava em flores ao tocá-lo. Mara é considerado o Demônio do Céu, ser responsável pelos desejos e aflições incessantes. Demônio no budismo não é satanás do cristianismo, é apenas um ser atormentado e confuso em suas próprias ganâncias e se torna irado quando não conseguidas. Mara representa nossos anseios incontroláveis.

Nascemos humanos para despertar sobre a nossa própria Natureza Búdica, de onde tudo provém e para onde tudo retorna, e cessar o ciclo de nascimento e mortes, o Samsara. A ignorância nos faz violentos. Nascer humano é uma oportunidade rara e preciosa. Os demais seres dos Cinco Reinos (seres celestiais, seres animais, seres famintos, seres irados, seres infernais) não possuem o mesmo discernimento. Estes reinos não são interpretados apenas como vidas em ciclos, mas estados de consciência no nosso cotidiano, ao amanhecer como seres celestiais, a tarde seres infernais e ávidos.

AHIMSA (अहिंसा) É O PRECEITO DE NÃO CAUSAR DANO, SEJA ELE EM PALAVRAS, AÇÕES E PENSAMENTOS, NÃO SER VINGATIVO, AGRESSIVO.

Tarefa difícil, Mara nos persegue a todo instante. Controlar a mente é como controlar um cavalo indomado, mas com treino, persistência e lucidez é alcançado. Mara persegue cidadãos comuns, políticos, policiais, ricos, pobres, brancos, negros, heteros, gays, basta ser humano. A palavra deriva do radical sânscrito himsa que significa bater, golpear, o prefixo A é a negação do ato.

ESTAMOS EM CONFLITOS INTERNOS CONSTANTES. CABE A NÓS CONTROLAR OS IMPULSOS PENSATIVOS DE IRA, GANÂNCIA, CÓLERA. E O QUE É ISSO SENÃO UM TIPO DE DESPERTAR?

Se cada um puder despertar para o seu Mara, teremos meio caminho andado para uma cultura de não-violência. Não-violência, contudo, não abnega a justiça às violências. Culpados são punidos, dores precisam ser apaziguadas, comportamentos precisam ser repensados, culturas precisam ser transformadas.

DO MESMO MODO COMO O PRODUTOR DE FLECHAS TORNA SUA FLECHA RETA, O SÁBIO TORNA RETO O SEU PENSAMENTO DISTORCIDO. O PENSAMENTO É DIFÍCIL DE VIGIAR. É DIFÍCIL DE CONTROLAR. 

Como um peixe arrancado do seu ambiente aquático e atirado ao solo, a mente treme e salta ao deixar o reino de Mara

Dhammapada, 33, 34 

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Rev. Jean Tetsuji釋哲慈

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