Coletivo Indra

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Algumas percepções sobre 2020

Estamos no primeiro dia de dezembro. Reta final para um ano que já vai tarde.

Momento em que, tradicionalmente, colocamos na balança nossas experiências ao longo dos últimos 12 meses. E quando faço este exercício, percebo que terminar 2020 viva e saudável já é uma vitória. No futuro, quando olharmos para o hoje, veremos que foi um tempo em que se demandou muito cuidado.

Autocuidado também, mas sobretudo o cuidado para com os outros.

Das crianças, que sem escolas, passaram a estar 24h por dia em casa, até os idosos, os mais fragilizados na pandemia. E nem vou entrar na discussão do papel das mulheres, sobretudo das mulheres negras nas performances de cuidado, pois seria necessário mais espaço para dar conta desse debate.

Entretanto as dificuldades de estar em casa full time tem fomentado várias conversas interessantes com amigos e em grupos que faço parte. Tenho falado com várias pessoas, principalmente mães, que relatam as dificuldades de ter crianças pequenas em casa sem espaço onde gastar a energia. Eu me identifiquei logo de cara, porque aqui, são dois filhos: o mais velho de 17 e a mais nova, o tornadinho da casa, de dois anos. Então já viu, né?!

Assim, nesse exercício reflexivo sobre esse ano, algumas percepções me vieram e as compartilho aqui com vocês. Primeiramente este ano tive que abandonar a minha autoconcepção de organização e limpeza doméstica, já que enquanto arrumo um cômodo, o outro recém-arrumado volta à bagunça típica de toda a casa com criança. E apesar da minha atenção com o vírus - sempre passando desinfetante do chão, tomando banho imediatamente ao chegar da rua, deixando os sapatos do lado de fora e desinfetando os produtos do supermercado - eu termino a atividade cotidiana de cuidado exausta.

A minha relação com o meu quilombo familiar também mudou ao longo dos meses de confinamento e a minha casa passou a se tornar elemento de cuidado, exigindo pequenos reparos, mudei móveis de lugar, joguei muita coisa fora e me senti mais fluida, leve e disposta a abraçar cada cantinho do meu lar com a vitalidade do meu Sol. 

Venho, ainda, me esforçando para abandonar a lógica da pressa ocidental e praticando a compreensão filosófica de que “todo tempo é tempo”. Então queria terminar essas divagações com alguma mensagem positiva sobre esse ano, mas o único pensamento que me vem à cabeça é o provérbio bantu e yoruba (apesar das variações) que diz que “o vento não quebra uma árvore que se dobra”.

Acho que os ventos deste ano, exigiram muito de nossa envergadura. Sigamos firmes.  

Aza Njeri

Instagram @azanjeri_