Aprender a cuidar, mais do que ser cuidado!
Solidão, impotência, carência são alguns, entre tantos sentimentos relatados por homens durante o puerpério.
Confesso que também me senti assim em diversos momentos. O afeto e cuidado, a atenção que antes era direcionada quase que exclusivamente para mim, não existia mais após a chegada da nossa filha, pelo menos não como eu queria. Isso trouxe de forma natural uma mudança nas nossas dinâmicas enquanto casal, e claro, um novo lugar pra mim.
Mas que lugar é esse? Demorei para descobrir.
Enquanto homem, enxergo o quanto foi, e algumas vezes ainda é, difícil não ser mais o centro das atenções. O quanto é difícil perder muitos dos meus privilégios, por mais que ainda existam muitos outros. Meus sentimentos eram legítimos, assim como com certeza são os seus marujo, mas hoje, após quase 4 anos do nascimento da minha filha, vejo e sinto com muito mais clareza e maturidade o quanto fui egoísta, fui cego ao que realmente era prioritário naquele momento.
Cego para a prioridade de cuidar mais que ser cuidado. Acolher mais que ser acolhido. Entregar mais que receber. Ouvir mais que falar.
Quanto mais eu estou com homens e estudo sobre homens, gestação, parto e puerpério, mais me fica claro que essa cegueira e os comportamentos semelhantes ao de uma criança que quer atenção da mãe, têm raiz no nosso analfabetismo emocional, o que consequentemente nos faz ter dificuldade em sermos empáticos, e na total falta de conhecimento sobre o que é gestar, parir e o que é o puerpério.
E claro, no machismo estrutural que nos atravessa, querendo ou não. O que fazer? Navegando nesse oceano altamente desafiador mas igualmente transformador que é a paternidade, percebi que além de legitimar o que minha parceira trazia e buscar conhecimento, estar com homens e ouvir homens em um lugar seguro e acolhedor é foda! Poder compartilhar minhas angustias, medos, me vulnerabilizar sem medo de julgamentos e paralelamente me nutrir com as experiências de outros homens, com certeza me ajudou a chegar até aqui de forma mais leve. Agora posso dizer que tenho consciência do meu lugar e que vou honrar essa oportunidade que a vida me deu.
Tiago Koch
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