Aquela dor que também dói na gente
Você já parou para pensar sobre o privilégio de usar o banheiro público?
A primeira notícia é: “mulher trans impedida de usar banheiro feminino em uma rodoviária será indenizada em R$ 12 mil” ...
A segunda notícia é: “mulher trans foi expulsa de shopping após ser impedida de usar o banheiro feminino após reclamação de clientes” ...
Nesses casos, e em diversos casos de discriminação desta natureza, essas vítimas são hostilizadas e sua identidade de gênero é negada.
Nem vou entrar na quantificação do “dano moral” do primeiro caso, porque o que sofrem as pessoas LGBTs não pode ser mensurado ou quantificado economicamente.
Essas notícias me fizeram pensar muito nesse ciclo de graves e micro agressões praticadas contra os grupos minorizados, em especial a população LGBT+.
Do início ao fim o constrangimento é garantido:
“Uma cliente disse que tinha um homem no banheiro feminino”
“As clientes se sentem acuadas com a sua presença aqui”
“Você não pode usar esse banheiro, é só para mulheres de verdade”
“Quem garante que você não vai fazer nada contra as clientes?”
“Se você não quer entrar no banheiro masculino, não vai usar o banheiro aqui”
Convido você a esta reflexão: quantas vezes você deixou de ir a um banheiro público por ter medo de agressão ou discriminação?
Essa realidade, obviamente muito intensa quando vitimando pessoas trans, também é vivida por toda a população LGBT+ em diversas medidas.
Me lembro de receber olhares de outras mulheres quando eu “saí do armário” na faculdade. Apesar de isso nunca me impedir de frequentar o banheiro, por algum momento me fez refletir e preferir ir em momentos de maior fluxo (como no horário do intervalo ou entre aulas).
Isso porque... assim que a Jaque foi apresentada como minha namorada, ouvi até de “amigas” que elas se afastariam, pois afinal todo aquele meu jeito carinhoso devia ser um indicativo que eu estava “dando em cima” delas.
Aliás, conversando com a própria Jaque sobre isso, ela também se lembrou de uma situação em que estava no banheiro com amigas na faculdade e em dado momento elas perguntaram como ela se sentia em estar em um banheiro cheio de mulheres (quase um harém).
Ironias em jogo – acho o máximo a autoestima da heteronormatividade!
O medo ou resistência de usar o banheiro gera muitos problemas e feridas na gente (até problemas físicos, como infecção urinária, pedra nos rins, etc.).
Além de termos que reafirmar diariamente a nossa “(r)existência”, a sociedade heteronormativa constantemente reforça e faz questão de relembrar-nos do nosso não pertencimento.
Dentro ou fora dos conformes – aqui estamos e seguimos!
Fernanda Darcie
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* Imagem - filme Transamérica (Transamérica é a história de uma mulher transexual chamada Bree que, uma semana antes de fazer a cirurgia de readequação sexual, descobre ter um filho de 17 anos que precisa de ajuda. Sua psicóloga proíbe que ela se submeta à cirurgia sem resolver esse assunto, por isso Bree viaja para Nova Iorque para encontrar o garoto.)