Coletivo Indra

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As metáforas de religiões e espiritualidades: o que é que somos nós? 

(imagem: autoria desconhecida/ google imagens)

Religião e espiritualidade estão juntas, diz o senso comum. Andam de mãos dadas como um casal que passeia pelas ruas exibindo uma relação dura, indestrutível. 

Isso não é possível, diz o senso não tão comum. Tentar unir essas duas numa relação tão sólida é como tentar encaixar um quadrado num retângulo. Pode até dar certo, mas não será perfeito.

Pois bem, ainda utilizando metáforas, digamos que, as religiosidades hegemônicas - aquelas que decoram (e não refletem) a Bíblia e acreditam que Deus mora em catedrais - são aquele tipo de pessoa (branca e heterossexual) boa de papo, ruim de cama e que, por conta de seu comportamento nocivo, vai causar traumas em muita gente.

Já a espiritualidade, bom a espiritualidade é difícil comparar com uma pessoa, pois ela está em todas as pessoas. Digamos que é como a sementinha de feijão que plantamos na escola quando somos crianças: tem gente que cuidou e ela floresceu e...tem gente que nem se lembra dessa história.

Estou dizendo que são duas coisas antagônicas que não tem nenhuma relação? Não. O que está sendo dito é que elas podem ser amigas (com benefícios, por que não?), mas que a existência de uma não é necessariamente a existência da outra e elas estão bem assim.

As religiões, por mais libertárias e livres que sejam, trazem consigo algum tipo de dogma ou padrão de comportamento. Seja usar roupas brancas ou acender velas, até a não aceitação de pessoas LGBTIA+, as religiões funcionam como lentes através das quais vemos o mundo e, vamos combinar, as vezes elas fazem aumentar as miopias (utopias?).

Já a espiritualidade – e aqui não estamos falando de mundo espiritual, que faz parte das religiões – é aquele movimento místico, diria até mágico, de nos voltarmos para dentro de si. É reconhecer, no seu interior, a capacidade de (re)conexão com a sua intuição (aquela vozinha que, de repente, sopra umas coisas no pé do ouvido) e, principalmente, a conexão com os mundos que nos cercam. O mundo das outras pessoas - cada uma com sua própria órbita - o mundo da natureza, o mundo dos sentimentos e emoções genuínos e sim, o nosso próprio mundo, o planeta Terra. Afinal, vivemos neste planeta e, mesmo com projetos expansionistas doidos, ainda não temos condições de colonizar (defasar?) outros planetas. 

Parece distante, como palavras num papel. Porém, cara pessoa que me lê, é tão simples como um despertar. É sentir o oxigênio entrando nos pulmões, da maneira pausada e atenta, é olhar nos olhos de alguém que você ama e sentir que essa pessoa te ama de volta, é se deixar invadir pela empatia ou a famosa ideia de que “não faça para as outras pessoas o que você não quer que seja feito para você”.

Por fim, me despeço com as palavras de um poeta, também conhecido como Emicida:

Só existe uma maneira de se viver pra sempre, irmãoQue é compartilhando a sabedoria adquiridaE exercitando a gratidão, sempreÉ o homem entender que ele é parte do todoÉ sobre isso que o manifesto falaNem ser menos e nem ser mais, ser parte da natureza, certo?Ao caminhar na contramão dissoA gente caminha pra nossa própria destruição

(“Manifesto” – parceria de Fresno, Emicida e Lenine) 


Bruna David

Cientista da religião e umbandista

Lésbica, feminista, produtora de con”Lésbica, feminista, produtora de conteúdo. 

Sua trajetória pode ser seguida de uma adolescente emo para uma hipster meio torta, sempre bebendo muito café.

Ativista dos direitos humanos, é fundadora do grupo “Féministas” que envolve feminismo e religião. 

Instagram @babudavid

Twitter @_Gatoxadrez