PRIMEIRO DE TUDO, FIQUE EM CASA! 

Reforçado o recado, inevitável não refletir sobre este momento espantoso! Ponho-me a pensar nas inúmeras leituras análogas ao filme Ensaio sobre a Cegueira, da obra do grande Saramago. Ã parte a doença em si, cujos mortos não poderão ser enterrados dignamente pelos familiares, penso ainda no impacto econômico e social. 

TEREMOS UM NOVO SISTEMA ECONÔMICO? EMPRESAS VERÃO NO TRABALHO REMOTO UM NOVO MODELO, MELHOR QUALIDADE DE VIDA, MELHORAREMOS A URBANÍSTICA, REDUZIREMOS O TRÂNSITO, DIMINUIREMOS AS NECESSIDADES, CRIAREMOS HÁBITOS MAIS SAUDÁVEIS? 

Imagino a cabeça dos sociólogos, filósofos e economistas fumegando a entender o momento atual e futuro. E nesta hora a ciência está todo vapor, correndo contra o tempo. As religiões ao lado com o reconforto e esperança rogando aos inúmeros deuses.

No budismo há uma figura relacionada à medicina, aliás o próprio Buda Shakyamuni tinha um médico como monge. Bhaiṣajyaguru (sânsc.) ou Yakushi Nyorai (jap), é uma figura do panteão budista com origens no norte da Índia que chega ao Japão por volta do século VI. Sua forma sentada, ou em pé, expressa mudras (gestos com as mãos) representando na mão direita o não-medo, o amparo, e na esquerda um frasco, o remédio para nossos anseios. É um Buda muito venerado, atribuído como um mestre da cura, proteção contra infortúnios, salvador de doenças. Conta uma lenda que Yakushi aparece num sonho a um monge de nome Seigan (séc XIV) e o revelaria a cura dos olhos. Imagino tenha se tornado um patrono dos oftalmologistas japoneses.

Os sofrimentos conduz muitos de nós a buscar respostas no inefável, em algo supra-mundano, além das capacidades racionais e emocionais. Eu entendo como uma inspiração natural humana. E que pior mal há na perda da saúde? Para o Buda, todo sofrimento deriva dos venenos da mente, do orgulho, da soberba, ganância, comparação, dos desejos irrefreáveis e seus apegos. E que se reatualizam a cada vez que se satisfazem. O Buda não condena o desejo em si, mas nos alerta sobre sua crença sedutora permanente como a origem dos desequilíbrios.

A invocação aos sagrados (e aqui coloco propositalmente no plural) são nossos desesperos em sair dos rodamoinhos que ora nos alegram, ora nos entristecem. As religiões são comunicações para estes sentidos supra-mundanos, meios expedientes para encontrar sentido naquilo que não nos traz mais sentido, e sobretudo uma solução.

O BUDA DA MEDICINA REPRESENTA O ACOLHIMENTO E O REMÉDIO. O ACOLHIMENTO AOS CANSADOS REFÉNS DOS TORMENTOS DA MENTE. O POTE REPRESENTA AQUILO QUE ESTÁ ESCONDIDO EM NÓS E QUE NOS LIBERA DOS TORMENTOS E DIVERSAS IGNORÂNCIAS. É O REMÉDIO PARA A MENTE.

Nestes tempos virulentos, é saudável que roguemos aos sagrados. Porém, deixemos que ele nos ofereça o remédio da iluminação, da claridade, sem terceirizar a cura, mas apontando a origem dos erros da ignorância, da ganância e da ira. Estar consciente e presente da realidade é tomar uma pílula do pote de Yakushi que nos impele a rever o modo de vida ganancioso, desregrado, injusto, que resulta em moradores de rua sem álcool-gel ou água e sabão, em sistemas econômicos usurpadores e desiguais. O remédio ao monge Seigan não eram aos olhos físicos, mas aos olhos da mente. É como o filme do Saramago, onde o Buda é o diretor.

O BUDA DA MEDICINA REPRESENTA O ACOLHIMENTO E O REMÉDIO. O ACOLHIMENTO AOS CANSADOS REFÉNS DOS TORMENTOS DA MENTE. O POTE REPRESENTA AQUILO QUE ESTÁ ESCONDIDO EM NÓS E QUE NOS LIBERA DOS TORMENTOS E DIVERSAS IGNORÂNCIAS. É O REMÉDIO PARA A MENTE.

Nestes tempos virulentos, é saudável que roguemos aos sagrados. Porém, deixemos que ele nos ofereça o remédio da iluminação, da claridade, sem terceirizar a cura, mas apontando a origem dos erros da ignorância, da ganância e da ira. Estar consciente e presente da realidade é tomar uma pílula do pote de Yakushi que nos impele a rever o modo de vida ganancioso, desregrado, injusto, que resulta em moradores de rua sem álcool-gel ou água e sabão, em sistemas econômicos usurpadores e desiguais. O remédio ao monge Seigan não eram aos olhos físicos, mas aos olhos da mente. É como o filme do Saramago, onde o Buda é o diretor.

Oh Buda da Cura, por favor, mostre-nos o poder que cura todos os seres,

Remove a ignorância e o obscurecimento de todos os seres,

Nos capacita a realizar a grande obra.

Deixe as mentes da luz eterna serem reconhecidas dentro de mim.

Mantra do Buda da Medicina (Sadhana)

Fontes: Sobre Budismo e Japanese Buddhist Statuary

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Rev. Jean Tetsuji 釋哲慈

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