Como curar o fim de um relacionamento
Fácil é começar qualquer coisa. Existe ânimo, interesse, esperança, curiosidade no novo. Mas terminar não é ensinado, é sentido como ponto final quando deveria ser reticências.
Um relacionamento amoroso é a grande oportunidade de desenvolvimento, todos os tipos de situações são experimentadas. Dois seres se encontram e se colam carregando várias crenças, expectativas e histórias pregressas. E aí começa a aventura! Tudo é vivido com felicidade, alegria, vem as conquistas, filhos, viagens, as reuniões em família, os Natais, os amigos em comum, a quietude da cumplicidade, o sexo gostoso, o coração cheio de amor, de esperança e fé que tudo vai dar certo.
Então, com o passar do tempo, não sabendo explicar, algo vai morrendo dentro. É uma sensação, muitas vezes, de inadequação, de irritabilidade. Não é com o mesmo olhar que se vê o outro. Talvez até briguem por coisas corriqueiras. É difícil falar dos sentimentos, não é palpável. Também não é aprendido a lidar com eles. Seria muito mais fácil se estivéssemos discutindo política, religião, futebol ou ciência. O encontro no olhar do parceiro nada nos revela, a resposta não está ali.
O sentimento de vítima é o primeiro a aparecer como uma negação da auto responsabilidade. Para não admitir, julgamos e transferimos as decepções. Tenta-se, continua-se, pois afinal todas essas coisas não são motivo para acabar. Lógico que não. São só coisas da sua cabeça.
Muitas vezes a discussão e os desentendimentos podem ser a energia necessária para a paz na relação. Mas o medo do desconhecido não faz aparar as arestas. Essa é a fase do limbo, onde tudo está morno e sem movimento. Fica um sorriso “xoxo" de que está tudo bem. O outro sabe, sente e se esquiva. Tudo é percebido e sentido nas duas pessoas; falta coragem para ambos. A sensação de perder é assustadora.
De repente, fechando os olhos, a imagem é revelada: seu coração está partido, tem um buraco no timo, na garganta um nó, a mente oca, as pernas imóveis e sua alma se foi.
VOCÊ MORREU PARA VOCÊ.
E agora? Se lançar no desconhecido? Ficar? Continuar talvez criando uma doença como uma saída colateral? Rezar pedindo a Deus, ao Universo, a Natureza um pouco mais de clareza e força? Só você pode passar pelo canal do parto ou sair de uma cesárea para a Vida.
Num ímpeto de confiança e loucura tudo é terminado. Pouco provável, nesse momento, fazer o que se chama de eticamente correto, sem ferir muito quem te ama. É respirado um ar brevemente tranquilo: “Consegui, tudo acabou; ponto final. ”
Depois vem a certeza que faria diferente. Quer esquecer o sofrimento, os traumas, a dor da separação, o luto. Em casa, no calor da cama, a pergunta vem: - Porque essa pessoa não sai de mim?
Nenhuma folha cai na Terra sem um bom motivo. Existe uma sincronia para dois indivíduos se unirem. O entrelaçamento do casal acontece pela necessidade de curar algo do sistema familiar de origem. O indivíduo que estava ao seu lado era o espelho do que precisava ser acomodado e restaurado dentro de você. E a dor da separação vem da frustração por não ter conseguido resgatar o que precisava.
Logo, a cura vem da aceitação de que cada um fez e deu o seu melhor. Assumindo a sua parte de responsabilidade pelo que não deu certo e deixando com o outro a parte dele. É importante libertar o parceiro de suas expectativas e exigências, sabendo que ele é perfeito do jeito que é para realizar o propósito de vida dele, não o seu. Agradecer e deixá-lo em paz é a melhor opção para a reconciliação consigo mesmo. Estas são as reticências... A memória da pessoa que um dia você amou fica carimbada nas células do corpo. Não vai sair, tem que ser incluída, aceita e honrada com carinho.
Portanto, siga em frente, levando esse registro com orgulho por não ter deixado de viver e de amar intensamente, pois nesse caminhar todos se transformaram.
Marisa Salvador Dominguez
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DESAPEGUE
Desapegar.
Não é deixar ir.
Não é abrir as mãos.
Não é dar liberdade.
Para um passado, um
sentimento, uma história.
Desapegar é deixar
as coisas no lugar delas.
E aceitar o convite do Tempo.
Para seguir em frente.
(ZACK MAGIEZI)