Coletivo Indra

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Como lidar com uma perda?

A gente sempre conviveu com a perda. O tempo todo. Pode ser a perda de alguém querido, de um amigo ou um conhecido mais distante. A perda de celebridades também mexe conosco, pois relembra o quanto a fragilidade da vida é inescapável não importa quem você seja e quantas pessoas lhe conheçam e acompanhem seus passos. Independente disso, há uma dificuldade tremenda em lidar com esse sentimento e encará-lo como inerente ao fato de estarmos vivos.

É difícil compreender que um dia tudo o que vivemos vai acabar, deixando inacabado tudo o que ainda queríamos fazer, como também é pesado e nos gera sentimentos complexos reagir a uma perda próxima ou distante. Não parece razoável esperar que tenhamos uma atitude consciente frente a esse desconhecido definitivo, que foge a todo controle e que não há capacidade humana que possa superá-lo, que seja capaz de vencer frente a esse desígnio da impermanência.

Em “Tudo sobre o amor: novas perspectivas” Bell Hooks nos mostra que um dos traços da cultura patriarcal na qual estamos inseridos é o culto a morte, que se revela no medo irracional e na paranoia por segurança, mesmo quando não há ameaças reais.

Este, também aparece no espetáculo de mortes que os meios de comunicação oferecem diariamente uma espécie de adoração da morte. Essa cultura, todavia, não nos prepara para lidar com a situação real de mortalidade, por estar fundamentada no medo, em situações que nos tiram da realidade e impedem que possamos a enxergar como de fato é.

Ela nos gera pensamentos catastróficos e sentimentos que dificultam que possamos desfrutar do presente em sua completude.

Hooks escreve que a solução para isso está no amor. No amor pela vida.

“Para vivermos plenamente, precisaríamos abandonar nosso medo de morrer. Esse medo só pode ser abordado a partir do amor pela vida.” Mais a frente, a autora escrevem:

“A única forma de viver uma vida em que, como canta Edith Piaf, ‘não me arrependo de nada’ é despertando para a consciência do valor de modo de vida correto e da ação correta. Entender que a morte está sempre conosco pode servir como um lembrete fiel de que o tempo para fazer aquilo que queremos fazer é sempre agora, e não algum futuro distante inimaginável.”

 É difícil não temer aquilo que não podemos evitar. Mas a chave para evitar que isso aconteça parece estar em abraçar esse sentimento em sua concretude, o que significa amar a cada passo dado, tendo clareza e consciência de sua importância. Relembrando que cada encontro é único e que em todo segundo cabe uma vida inteira.

Pode haver em nós um desejo pela eternidade, mas nós desfrutamos desta quando o amor pela vida surge em nossos corações. O tempo não passa num olhar que brilha, ou num sorriso incontido. É ali em que podemos nos colocar por inteiro até que o próximo momento surja.

Certamente é um grande esforço termos ciência disso e outro maior ainda conseguir colocar isso em prática. Mas o primeiro passo para os momentos de eternidade só pode ser dado quando nos abrirmos para o amor. Não há porque temer a morte, se a vida tiver sido verdadeiramente amorosa. Ali, ela terá sido tudo o que poderia, a cada instante eterno.

Arthur Spada

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