Coletivo Indra

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Corpos trans são transgressores?

Foto Silas Lima

Não pude de deixar ler e acompanhar o "burburinho", que as declarações de um ator e um humorista, provocaram a partir da fisiologia de corpos de pessoas trans, na semana do dia 16/09. A partir disso quis refletir, sobre esse incômodo causado por esses corpos. Afinal porque corpos trans agridem tanto?

A TRANSGRESSÃO ATRIBUÍDA AOS CORPOS TRANS É MUITO CONTROVERSA.

O Brasil, segundo dados de entidades defensoras dos direitos de pessoas trans, é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Pessoas que tem sua expectativa de vida de 35 anos, poucas oportunidades de vivência social e de trabalho. Beiram a marginalidade, com raras exceções de pessoas bem-sucedidas que “transpassam” esse número faixa etária. 

Em contrapartida, é o país que mais consome pornografia trans, segundo fontes especializadas de pesquisa na internet. Esse contrassenso nos coloca num dilema:

O PAÍS QUE MAIS CONSOME PORNOGRAFIA TRANS, É O QUE MAIS MATA E MENOS OPORTUNIZA. ONDE ESTÁ O ERRO?

Nos corpos dessas pessoas ou no desejo da população que aponta o dedo e torce o nariz?

Bem, vejamos: pressupõe-se que a liberdade de expressão tão exaltada pela nossa constituição, seja válida para todos. A vontade dessas pessoas de corpos trans não é de expressar um desejo num tom cômico ou debochado. O transgredir desses corpos (e preciso me ater na ironia do sufixo trans em “transgredir”) nada mais é do que externar um desejo incontrolável e legítimo de ser por fora quem se é por dentro.

A população em geral repudia o que desconhece, e por não conhecer, não faz questão alguma de tomar ciência real do que repudia. Somos sim um grande arremedo de conceitos, adquiridos durante a vida. Nossos conhecimentos são limitados as coisas do nosso entorno e das nossas vivências. E É PRA ESSE PONTO QUE CHAMO A ATENÇÃO. As pessoas trans permitem-se sair de seus casulos pré-estabelecidos e experimentam vivenciar outra realidade que não era a dela, e que em suma, é sim, sua realidade.

A transgressão tão falada desses corpos trans se encaixa perfeitamente no conceito geológico da palavra “transgressão” que diz: 

”...avanço do mar sobre áreas litorâneas, em virtude de elevação do nível do mar ou de movimentos de afundamento da zona costeira”. 

Vejo isso da seguinte maneira: o ser humano trans (mar) sobrepõe suas  vontades, vivências, dores e anseios sobre as vontades da sociedade que  impõe padrões (áreas litorâneas),tudo isso porque suas vontades ultrapassam qualquer tipo de conceito ou entendimento pré concebido pela sociedade ou seio familiar.

Valéria Barcellos

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