Coletivo Indra

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Crianças especiais: família, escola e sociedade

Imagem Internet

A finalidade deste texto é provocar uma reflexão conjunta, para que possamos fazer um estudo amplo de possibilidades que venham a fazer verdadeiramente a inclusão das crianças especiais em escolas normais. Agradeço se os leitores, que convivem diariamente com crianças especiais, dêem seu depoimento para podermos trocar.

O QUE É MAIS EXCLUDENTE DO QUE O PRECONCEITO E A DISCRIMINAÇÃO?

Há muito tempo atrás não era frequente encontrar nos bancos escolares uma quantidade realmente grande de crianças especiais. Tínhamos muitas crianças com paralisia cerebral, Síndrome de Down, DCM e Hiperativos circulando pelas escolas. Hoje o número de autistas aumentou e temos uma nova geração de crianças chamadas de habilidades especiais e que estão trazendo conflitos para os professores e pais. 

Na geração de meus filhos, o colégio onde estudavam tinha a classe especial para crianças especiais. Compartilhavam as mesmas dependências da escola, socializavam no horário do recreio e nas demais atividades complementares da escola com todos, mas tinham atenção especial em sala de aula, com professores especializados e muitas crianças com Síndrome de Down saíram alfabetizadas. Hoje, no meu ponto de vista, não vejo mais isso, porque a tal "inclusão” proposta hoje, de crianças especiais estudaram misturadas, pode se tornar uma falsa inclusão. Crianças especiais precisam de atenção especial, e numa sala de aula “comum” ninguém fica direcionado para a alfabetizando destas crianças.

 A inclusão social é a grande barreira para a plena vivência das crianças portadoras de deficiência. Mas, o que realmente é “inclusão”? Será apenas aceitar a presença de portadores de deficiência em uma sala de aula?

O CONCEITO TEM A VER COM A NOÇÃO DE PERTENCIMENTO: PARA SER INCLUÍDA UMA PESSOA TEM QUE FAZER PARTE DOS GRUPOS NOS QUAIS ELA CONVIVE. 

Para isso, nós precisamos estar preparados para lidar com as diferenças de pensamento, de interação, de comunicação. Me parece que a receita para uma sociedade realmente inclusiva são mais direitos, para que isto ocorra de forma ampla. O respeito e cumprimento dos direitos é essencial para melhorarmos a inclusão na nossa sociedade. Uma das principais dificuldades das famílias com crianças com deficiência é no quesito escolar, e as escolas não podem mais recusar oficialmente as matrículas dos pequenos portadores de deficiência. Entretanto, apesar disso, muitas instituições de ensino continuam a colocar empecilhos, não dando a atenção efetiva ou até não cumprindo as solicitações e orientações para aquela criança.

O tal “ajudante de classe” não tem a função de se dedicar exclusivamente para trabalhar com estas crianças, seu objetivo é apenas cuidar. Por que eles não tem o direito de serem alfabetizados ou incluídos separadamente, ao mesmo tempo, em horários livres possam conviver com seus colegas de escola?

A Declaração de Salamanca (1994) proclamou que toda criança portadora de deficiência tenha direito à educação e acesso à escola regular, a qual deve ser capaz de inseri-la em um sistema pedagógico apropriado para satisfazer as suas necessidades e de promover chances de aprendizagem.“ 

Pergunto no meu consultório a opinião dos pais e o que observo me faz refletir e vir trocar com vocês também. Eles lutam para que seus filhos tenham um atendimento integrado, mas entendem que aquele professor na sala de aula, precisa atender a necessidade de muitas outras crianças, e então chegam a conclusão de que existe a exclusão, não no sentido social, mas no sentido cognitivo. Estar ali sem um ensino pedagógico adequado e direcionado não inclui este cidadão. Entendemos que esta não é a finalidade da escola, mas então por que esta criança está ali sem atendimento adequado? Os professores não dão conta deste trabalho, uma sala com 20 crianças exige muita atenção. E na rotina do ensino as crianças especiais possuem características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem diferentes dos outros alunos e quando misturados, correm o risco de ficar a margem nas salas de aula. 

Há muitas crianças voltando para escolas especiais pelo fracasso desta tentativa de inclusão pedagógica! 

Para a inclusão se tornar efetiva e parte do cotidiano das nossas crianças especiais é preciso um movimento social importante. Não podemos pensar somente nos filhos de pais com condições financeiras, que podem ter acesso a outras terapias que ajudam no desenvolvimento. As crianças que dependem de hospitais públicos, por exemplo, por não terem acesso a terapias complementares, como fono e terapia ocupacional, elas ficam defasadas. A intervenção de saúde, educação e terapias complementares para o melhor desenvolvimento precisa ser precoce. Pois, com o passar do tempo, esta defasagem aumenta e quem vai cuidar destas crianças na fase adulta? 

É PRECISO PENSAR EM TODAS AS CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS COM ACESSO A EDUCAÇÃO E SAÚDE INDEPENDENTE DAS CONDIÇÕES FINANCEIRAS. ASSIM COMEÇA A INCLUSÃO!

No cuidado da saúde destas crianças a tendência é medicalizar, com medicamentos de efeitos colaterais indesejáveis e desnecessários, na maioria das vezes. E esta não é a melhor saída para um desenvolvimento saudável.

Então para melhorar os cuidados e atenção com nossas crianças especiais creio que temos desafios significativos:

  • ter vontade de mudar a relação inclusão X exclusão destas crianças;

  • orientar crianças não portadoras de deficiência sobre a convivência e inclusão destas;

  • se mobilizar como pais, escola e sociedade com um olhar objetivo para a melhora desta inclusão;

  • conjugar apoio e buscar suporte;

  • exercer seus direitos e cidadania;

  • implantação de políticas públicas em todos os âmbitos, com participação democrática na definição de metas;

  • criação de estratégias didáticas e metodológicas para que haja inclusão efetiva. 

“Falar que a inclusão é um processo, significa dizer que ela muda à medida que avança, encontra dificuldades e pode dar passos para trás até descobrir outros caminhos – a partir da interação com as pessoas, com os fatos e com as circunstâncias de cada tempo e momento. Significa também dizer que ela nasce dentro de cada um de nós, mesmo naqueles que já se consideram “inclusivos”. Sempre temos algo a aprender. Há sempre mais uma fronteira para transpor.“

Não sei o caminho, mas sinto  que é preciso lutar por um mundo melhor para estas crianças !!!!!!!!!

Hayde Haviaras

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