Coletivo Indra

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De onde vem a prática de destruir estátuas em atos de rua?

Fonte: Brasil de Fato

Não é novidade para ninguém que as manifestações de um tempo para cá tem terminado, quase sempre, com alguma estátua sendo destruída. Em 2020 os atos políticos antirracista, após a morte do cidadão afroamericano George Floyd por um policial, ocasionou na destruição da estátua de Edward Colston, sujeito que enriqueceu como traficante de escravos no século 17 (imagem).

Logo depois, a estátua de Cristóvão Colombo foi atirada às profundezas do mar. E assim tem ocorrido desde então, o que parece que está fazendo parte do ritual dos protestos em todo o mundo:

Destruir símbolos que remontam a um passado sangrento, marcado por violência e opressão.

Não é a primeira vez que as massas revoltosas expressam seu ódio por meio da iconoclastia, ou da destruição de símbolos. O início da formação das sociedades modernas foi acompanhado pelo processo de formação de uma identidade nacional, o que requer a escolha de heróis (quase sempre de guerras), mitos e símbolos que evocam sentimentos de patriotismo e de nacionalismo.

No Brasil, por exemplo, a construção dos heróis nacionais (brancos) passou pela construção de uma visão romântica do indígena, como um “bom selvagem” e pela construção da imagem do negro como trabalhador braçal.

Então, não é de se espantar a destruição de estátuas e de quaisquer símbolos que façam parte do bojo das lembranças que evocam as memórias desse passado que existiu, mas que ainda fazem parte do nosso presente, seja pelo racismo, machismo ou pela necropolítica.

Contudo, não é do passado colonizador que vem a prática de destruir estátuas, obras de artes plásticas, por multidões em atos de rua. Não tenho como afirmar exatamente quando essa prática existiu na história da humanidade, mas posso afirmar que esse tipo de ação política, relacionada aos movimentos de esquerda, foi rotina na revolução cultural Chinesa. E podemos afirmar também que tal tipo de prática na China da Revolução Cultural foi sem precedentes na história.

No filme “Adeus, minha concubina” dirigido por Chen Kaige, cineasta do período pós-revolução cultural maoísta, há uma cena em que se apresenta um processo de negação da antiga sociedade e revela a transição para a nova sociedade forjada pela Revolução Cultural.

Dois personagens, por medo do linchamento seguido de morte em praça pública, ateiam fogo em xícaras de Jade, bebida tradicional chinesa, símbolo da China monarquista.

Queimar e destruir símbolos de um passado sobre o qual se quer diferenciar é uma ideia central da Revolução Cultural chinesa, e antes dela, já estava presente no leninismo e sua ideia de "novo homem soviético". Por mais doloroso que seja; por mais repugnante que seja o passado; é importante evitar que a destruição de obras de arte hipervalorize a política como espetáculo, com a vanguarda revolucionária como protagonista, e se perca no processo de negação desse passado.

 Marina Rute Pacheco

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 Mao o último imperador é um documentário transmitido pelo GNT sobre Mao Tsé-Tung e a Revolução Cultural chinesa. Apesar das afirmações enviesadas e diante das poucas imagens de arquivo que temos disponível na internet, esse documentário serve como material para contato inicial com a história da Revolução Chinesa.