DESCUBRA UMA NOVA POESIA!
O Brasil vive um momento de imensa vitalidade na sua poesia!
Bom começar um texto assim, né? Afinal, é importante lembrar que, em meio à tanta brutalidade, estamos, mais do que nunca, envoltos por muita gente que está criando uma poesia plural, renovadora, e com grande qualidade poética.
Mas é preciso abrir os olhos para o novo. Nem só de Drummond, João Cabral e Cecília Meireles (para citar os mais lembrados em termos de cânone) vive nossa poesia.
As novas gerações estão aí, e propõem, inclusive novas formas poéticas. Para ser considerado um bom poeta, já não é mais necessário ser exímio em nenhuma forma pré-concebida, como sonetos, verbos dodecassílabos ou pentâmetros iâmbicos.
Certo, se você é um leitor de poesia pode me dizer que isso já é assim há mais de um século. Sem dúvida, convivemos há muito tempo com o verso livre, mas hoje ele está mais livre do que nunca, podendo, inclusive flertar descaradamente com a prosa.
A metáfora também já não é mais tão soberana. Quem viu o filme: O Carteiro e o Poeta lembra da transformação na vida do carteiro ao descobrir, pelas mãos carinhosas de Neruda, a força de uma metáfora poética.
Elas, as metáforas, seguem povoando belíssimos poemas. Mesmo assim, hoje é possível encontrar poemas narrativos potentes, ou até poemas/ensaios, sem que imagens metafóricas tenham que legitimar os versos como poéticos.
Mas, talvez, a maior renovação venha das vozes. E dos corpos. Os corpos reivindicaram a poesia de volta. Durante séculos, a esmagadora maioria de vozes que se faziam escutar na poesia brasileira era de poetas cis, homens, brancos, heterossexuais, de classes mais privilegiadas. Certamente houve importantes exceções, mas que tiveram que trilhar o caminho poético muito mais pelo caminho da resistência.
Hoje, as vozes poéticas também são trans, negras, femininas, periféricas, indígenas, LGBTs, ...
Nas livrarias, há belíssimas publicações que, inclusive, pensam o objeto livro como uma extensão da poesia que ele contém. E o mundo se abre com a internet, relativizando, em alguma medida, o poder econômico como balizador de quem será publicado ou não.
Enfim, todas essas palavras disfarçam um convite: descubra um poeta novo. E, quando escrevo um poeta, quero dizer uma poeta ou um poete também.
Que a poesia seja uma lente amorosa para ler o mundo, e que nos ajude a reescrever um tempo pós pandêmico.
Que possamos aprender com ela a subverter as inevitáveis parcelas de dureza que compõem nosso dia-a-dia.
Renato Farias
Instagram @fariasre
Siga no instagram @coletivo_indra