Coletivo Indra

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Escutando as Filosofias Africanas

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Estamos em meio ao caos, fica até difícil escrever diante dos absurdos que estão acontecendo nesse país. A elite do atraso não tem empatia, pagando R$600,00 para furar a fila da vacina ou promovendo eugenia carcerária.

“Essa elite é, sem dúvidas, uma das agentes da nossa desgraça coletiva desde 1500.”

Eu estou triste, com raiva e receosa pela Vida, diante das incertezas dos nossos tempos, me volto para as filosofias africanas, me nutrindo não só de seus ensinamentos, mas também fazendo escolhas éticas alinhadas à centralidade da minha humanidade e respeitando a humanidade que há em tudo. Assim, hoje, quero fazer um exercício reflexivo, pedindo fôlego às filosofias africanas para continuar caminhando no nosso tempo.

“Chego à janela do meu ser e grito: Como (sobre)viver em meio a este caos?”

Ecos de saberes ressoam e neles ouço as vozes da África que ecoam em nossas afrodiásporas. São as Filosofias Africanas que me respondem cada uma a sua vez:

A Filosofia Ubuntu sussurra para mim: “umuntu ngumuntu ngabantu” me lembrando que “uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas”.

Portanto, diante do nosso cenário, é importante entender nossa teia energética e ancestral. O aquilombamento que nos une na mesma força vital, com mais de 300 mil mortos, a nossa energia Ubuntu precisa, mais do que nunca, ser reforçada.

Novas vozes chegam até mim, agora ouço a Filosofia Bakongo dizendo que somos “Sois Vivos”.

E diante da catástrofe que vivemos, precisamos buscar caminhos de acendimento do Sol da nossa Humanidade. Mas, talvez, a principal questão seja como manter o brilho do nosso Sol em meio à fome, pandemia, desgoverno e genocídio?

Um sopro fininho, bem longínquo chega até mim, nele escuto a Filosofia Kemética que me ensina que o equilíbrio é o caminho para a serenidade. E eu busco na prática meditativa maneiras de equilibrar minha mente. E fico me perguntando quais as possibilidades de serenidade vivendo um tempo tão acelerado e virtual.

Um vento forte me sacode e nele a Filosofia Iorubá me alerta que o Ará (corpo) é a morada do nosso ser e que devemos cuidar com carinho e respeito da nossa casa neste mundo físico. Então, logo penso nos atuais dados da pandemia, em que jovens saudáveis e muitos deles  com o famoso “histórico de atleta”  estão morrendo na fila de atendimento nos hospitais. 

Fecho os meus olhos, respiro fundo e vejo a Filosofia Dagara, sua voz suave me acaricia dizendo que subimos em coletivo a montanha da vida. E eu só consigo pensar que a saída para nossa desgraça é coletiva também. Seja num lockdown nacional, seja com as teias sociais de solidariedade, seja com organização mobilizada diante das violências do Estado Genocida. 

“Volto da reflexão meditativa mais forte e esperançosa talvez.”

Lembro que no último domingo minha mãe e minhas tias, todas idosas e com comorbidades sérias, foram vacinadas, pelo menos um alívio me faz sorrir.

Está muito difícil ficar vivo no Brasil mas não podemos abandonar essa meta!

Nossa humanidade é inegociável e precisamos ficar Vivos!

Aza Njeri

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Aproveito para convidar meus queridos leitores a se juntarem a mim na formação online “África e diáspora: caminhos pluriversais”

https://eventos.diaspora.black/products/533/africa-e-diaspora-caminhos-pluriversais , dias 10 e 11 de abril ás 14h. Nela, trago fôlegos artísticos, filosóficos e culturais de África que nos ajudam a pensar os nossos tempos. É Solar.

Diaspóra Black

Quem faz

Aza Njeri é professora doutora em Literaturas Africanas, pós doutora em Filosofia Africana, pesquisadora de África, Afrodiáspora e Mulherismo Africana, coordenadora do Núcleo de Estudos Geracionais sobre Raça, Arte, Religião e História do Laboratório de História das Experiências Religiosas/UFRJ e o Núcleo de Filosofia Política do Laboratório Geru Maa/UFRJ, integrante do premiado Segunda Black e Grupo Emú, multiartista, crítica teatral e literária, mãe e youtuber (youtube.com/azanjeri)