Estamos vivendo bem juntos?
A pergunta do título parece merecer uma óbvia e negativa resposta diante do estágio no qual nos encontramos. Mas esta, que indaga sobre como e qual é a melhor forma de vivermos juntos é formulada ao longo de toda a história humana, conduzindo a distintos caminhos e a uma infinidade de soluções e propostas, sempre inacabadas, que nunca nos levaram para uma satisfação total enquanto corpo social. Nossos sistemas de organização advêm daí, ao tentar se buscar a melhor forma de vivermos juntos.
Mais do que nunca, em nossa era, parecemos estar em um momento crítico. A política, que é sempre insatisfatória enquanto resposta para regular as relações humanas, dá sinais de ter chegado aos seus limites. Ao contrário do que propôs Francis Fukuyama no início dos anos 90, ao dizer que a história chegara ao fim após a queda do muro de Berlim, com a hegemonia da democracia liberal e do capitalismo de mercado, enquanto estágio final da evolução sociocultural, agora de fato parecemos estar na conclusão de nossa trajetória humana, onde nada há no amanhã além da catástrofe.
Estamos cercados por um ambiente penoso. Seja nas esferas macro regulatórias da nossa experiência social, ou nas dimensões mais particulares da nossa vida, o cenário é de crise.
Isso se revela no crescimento exponencial dos diagnósticos de enfermidades ligadas a saúde mental, ou ainda em relações intersubjetivas que não se sustentam e denotam um esvaziamento da experiência do contato com o outro.
Na falta de empatia e na perda de um olhar para o humano do próximo, que não reconhece nele aquilo que espero para mim. O trabalho está em crise, não por sua falta, mas também pela emergência de novos modelos de emprego que precarizam ainda mais o seu exercício.
O Indivíduo está em crise pela falta de sentido ou propósito de vida, cujas demandas internas não são atendidas por aquilo que é oferecido pelo capitalismo financeiro e seu caráter hegemônico e totalizante, ao ocupar todos os espaços da vida do indivíduo. O contexto atual é devastador.
Buscar por novas utopias que nos retirem desse lugar é fundamental. Imaginar outras formas de viver em sociedade e que nos mantenha, ao menos, vivos. Ou um novo olhar para as velhas utopias que já conhecemos e que agora parecem não dar mais conta desses propósitos – a política, a democracia, a igualdade. Tão mais difícil esse esforço se apresenta quando nos encontramos num momento de esgotamento. Não singular apenas, mas enquanto coletividade. Estamos cansados, estafados. Mas é preciso resistir e dar espaço para o sonho. Ao reconhecer o desencanto do presente é fundamental encontrar o encanto da esperança. Compreender que ainda, e sempre, valerá a pena. Que não há frescura em chorar por qualquer vida, ou que não é ingenuidade imaginar uma saída ainda não proposta. Sempre fará sentido enquanto o que buscarmos seja viver bem, juntos.
Arthur Spada
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