Coletivo Indra

View Original

Filhos de empregadas

Armandinho

Quantos filhos de empregadas, domésticas e diaristas são submetidos ao olhar mesquinho e de julgamento de patroas?

Quantas crianças tem o tempo de sua mãe roubado e trocado pela necessidade de subsistência?

Quanto dos seus sonhos lhes é fracionado pelo olhar de julgamento da patroa ou do patrão, que normalmente enxerga nos corpos de periferia somente pessoas que podem suprir suas necessidades básicas a um custo baixo, fazendo com que seja doado seu tempo para garantir que a vida e seus filhos se mantenham em segurança? 

É difícil contabilizar quantos de “noix” já não perdemos nossos sonhos ao observar os filhos dos patrões em seus playgrounds, perdidos em sua própria vaidade e ignorância e indiferentes ao sofrimento das empregadas. Eu mesmo durante a minha infância, acompanhei inúmeras vezes minha mãe, atado a barra de sua saia, para a casa em que trabalhava e via também o quão insensíveis mulheres que, por terem nascido em berço nobre, tratam as mulheres das favelas.

Será esse o fruto do ventre chamado desigualdade, que nasce do paralelo mundo entre as senzalas e as casas grandes, dos quilombos as cidades brancas?

De uma forma ou outra são os corpos da periferia, de maioria preta que tem sonhos e desejos mutilados todos os dias.

Um dos motivos de eu querer me destacar em todas as áreas que atuo é porque percebi que isso irrita e de certa forma assusta os patrões e seus filhos. Não é normal para eles o filho de uma empregada querer ser rei. Não é do habitual mundo que vivem que o neguinho agora ande vestido feito patrão, lançando moda e se tornando referência para a sua própria quebrada.

Tudo isso é pra dizer que ainda sonho com um mundo aonde as crianças não sejam expostas a tantas desigualdades e no qual, viver seus sonhos, seja algo comum e não a luta diária que passamos todos os dias. Se você é preto e periférico, é como diz a música dos racionais: “você tem que fazer duas vezes melhor”. Eu faço três, quatro, cinco. Seja o melhor, porque no final das contas valerá a pena, mesmo que seja julgado e perseguido.

Não esqueça: quando cair seja o melhor, quando levantar seja o melhor, mesmo que digam que é o pior, simplesmente seja o melhor!

Lucas Santos Leite

Urubu do Quilombo @urubudoquilombo