Coletivo Indra

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Gente morta e ferida. Qual a razão disso tudo?

Ilustração @leonmarti publicada no @designativista

Ághata Félix foi morta no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, com um tiro de fuzil nas costas em setembro de 2019. Ela tinha 8 anos de idade, antes dela outras crianças tinham morrido vítimas de disparos. Em março, Kauan Peixoto, de 12 anos, morreu após levar um tiro no abdômen durante um confronto na comunidade da Chatuba de Mesquita. Em maio, Kauã Vítor Nunes Rozário, 11 anos, foi atingido por um tiro de fuzil quando andava de bicicleta na comunidade Vila Moretti, em Bangu. Em setembro, 10 dias antes da morte de Ághata, Kauê dos Santos, 12 anos, foi morto com um tiro na cabeça durante operação da PM no complexo do Chapadão na zona norte.  No mês de agosto, num prazo de 5 dias, 6 jovens morreram vítimas de disparos: Gabirel Pereira Alves, 18 anos; Lucas Monteiro dos Santos Costa, 21 anos; Tiago Freitas, 21 anos; Henrico de Jesus Viégas de Menezes Júnior, 19  anos,; Margareth Teixeira, 17 anos. 

Mais de um ano antes desse trágico evento, a vereadora Marielle Franco foi assassinada. Em 2014, Cláudia Ferreira foi vítima de disparos de agentes de segurança pública. Algum tempo antes, Amarildo de Souza desapareceu depois de ser levado por agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha no Rio de Janeiro. 

Além das mortes, temos casos que atingiram gente famosa e bem nutrida. No mundo do futebol, os casos merecem debate. Vale lembrar um veto da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) ao ator Lázaro Ramos e à atriz Camila Pitanga para cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014 no Brasil; especialmente pela imediata substituição do casal (negro) pela atriz branca Fernanda Lima e pelo ator branco Rodrigo Hilbert. O padrão FIFA tem fixação por peles brancas, cabelos lisos e dourados; porque não dizer rejeição aos cabelos crespos e peles negras, sejam negras claras ou mais pigmentadas? Afinal, o que explicaria a recusa de Camila Pitanga e Lázaro Ramos? Racismo?

O que o Estado brasileiro pode dizer algo sobre o pedreiro negro, pai de seis filhos que andava de bermuda, camisa nos ombros e chinelos rasteiros? O que pode ser dito sobre a morte de Marielle Franco? Sobre a morte de Ághata Félix? Em comum, não pode ser coincidência, todas essas pessoas eram negras, isso deve querer dizer alguma coisa.

UM DOS EFEITOS DO RACISMO É O ASSASSINATO DIRETO, SEJA POR “ACIDENTE” OU POR RAZÕES POLÍTICAS.

Uma forma de pararmos com isso é combater as raízes do  racismo!

A FIFA depois de ver as fotos um casal negro, preferiu procurar um casal branco e recusou a recomendação inicial. Nossos intercessores são os conflitos que deixam mortos nas favelas, os conflitos que fazem o braço armado do Estado (essa mesma polícia que também é morta) acertar negras(os). Nossos intercessores são os histéricos que bradam, “somos todos iguais”, e se ressentem com as políticas de ações afirmativas que enegrecem os bancos universitários.

O que dizer desses casos? Ághata Félix, Amarildo de Souza, Cláudia Ferreira, Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Neymar, Ronaldinho Gaúcho, Aranha, Daniel Alves?  Ora, alguns argumentos “ingênuos” podem dizer que tudo não passa de discriminação social. Ora, Lázaro Ramos, Camila Pitanga, Neymar, Daniel Alves, Aranha, Tinga, Hulk e Ronaldinho Gaúcho não foram discriminados por serem pobres.

A RAZÃO SUFICIENTE E NECESSÁRIA PARA ASSASSINATOS, INTERDIÇÕES, IMPEDIMENTOS, OFENSAS E ESCULACHOS ESTÃO NO RACISMO ANTINEGRO.

Todas essas pessoas são vítimas do racismo, sejam mais ou menos pigmentadas, trata-se de pessoas negras. Portanto, ainda que isso seja incômodo para algumas pessoas que lêem este artigo, não posso deixar de insistir numa fórmula simples: a questão é racial, puramente racial. Não tem nada de social nesses acontecimentos. Nem de violência conjuntural. É importante colocar os pingos: são casos de racismo. 

Renato Noguera

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