Coletivo Indra

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Homens e mulheres “feitos” são um perigo

É comum a gente ouvir e referir-se a adultos como pessoas “feitas”. Essa ideia traz outras por detrás dela. Ora, se você é uma pessoa “feita” significa que já está pronta e não precisa mais de nada. Quando sutilmente absorvemos isso como uma verdade, quem se dá mal é a nossa saúde mental. Geralmente, a gente só atenta realmente para a saúde mental quando: adoecemos, alguém que amamos adoece, quando vemos reportagens sobre o assunto ou em períodos de campanhas preventivas. No entanto, as duas primeiras, como nos afetam diretamente, são as opções que chamam para uma reflexão maior, pois “doem na carne”.

SAÚDE MENTAL PRECISA SER UM HÁBITO DE AUTOCUIDADO.

E nesse cuidado pessoal, uma das rotinas importante é a gente se entender e não apenas reagir na vida. É aí que pessoas prontas se tornam seu próprio perigo para suas questões internas.

Pessoas prontas não falham (ou não se permitem falhar) e, portanto, não admitem a sua sombra. Chamo de sombra tudo aquilo de negativo que temos muita facilidade de enxergar nos outros, mas temos dificuldade de enxergar em nós.  Então, ficamos muito mais na posição de ataque (“você é impaciente, arrogante, egoísta...”), ou seja, apontar em tudo que está externo o que nos desagrada.

Interessante que, culturalmente, também somos reforçados a ficar nessa dualidade: sagrado e profano. Se sou sagrado, o mal, o ruim, jamais pode habitar em mim. Enquanto não integramos nossos monstros, eles vão aparecer “do nada”. Sabe quando você diz: “não sei o que me deu na cabeça” ou “não era eu”? Pois é, sinto informar que era você.

Sua parte deixada de lado, colocada em um quarto e trancada. Mas que, mesmo assim, faz barulho e rebela-se. E, nesse movimento de não integrar todas as partes, vamos nos esquecendo de nós. Sim, não olhar para sombra é também esquecer de nós porque ela também é você. Apesar de ser uma atitude protetiva, não é a opção saudável a longo prazo. Ousaria dizer que é uma proteção burra e ingênua, já que no fim, não estamos nos protegendo. Estamos adoecendo, com tristezas, ansiedades, medos “sem motivo”.

Equilibrar é aceitar luz e sombra. Escolher esse caminho dói, mas traz cura. Quando saímos da dualidade, crescemos, amadurecemos. Continuamos sem estar prontos. A integração é processo contínuo de vida. A diferença aqui é que tomamos posse de verdade de nós e aquele quarto escuro, antes não habitado e até assombrado, torna-se parte da casa. 

Caroline Cabral

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CAROLINE CABRAL

PSICÓLOGA (CRP 11/06407) COM MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

TRABALHA COM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.

INSTAGRAM @CAROLCCRISTINOPSI