Karma arco-íris, existe?
Dia 17 último foi uma data importante no assunto homossexualidade, o Dia Internacional contra a Homofobia, quando a OMS em 1990 retirou do seus códigos a homossexualidade como doença e recentemente foi a transexualidade.
EM MÉDIA, 1 PESSOA MORRE A CADA 20 HORAS POR SER LGBT+ NO BRASIL, PAÍS ONDE MAIS SE MATA EM TODO MUNDO.
Em 2018 foram 420 pessoas, segundo o Grupo Gay da Bahia. Ser lgbt+ não é doença, doença é a mente do ódio, da raiva, da ignorância, da visão míope e unilateral! Sou cidadão, clérigo e gay e com tranquila convicção sinto-me no dever em contribuir com uma fala religiosa a uma sociedade mais tolerante, inclusiva e acolhedora. Precisamos evitar que políticas públicas não se corrompam por dogmas morais e nem legitimem uma pessoa ser violentada e morta apenas porque assim ela é.
A HOMOFOBIA PRECISA SER CRIMINALIZADA E UMA NOVA EDUCAÇÃO PENSADA PARA A PLURALIDADE DE VIDAS COMO TODAS AS DEMAIS.
Gostaria de propor uma pequena reflexão sobre ser lgbt+ do ponto de vista budista, quando ouço que é uma questão kármica. Vamos lá. Para haver karma (no seu conceito original e não ocidental) são necessários três elementos: uma causa, uma condição e uma volição. Esse é princípio da Lei dos Doze Elos da Originação Dependente (ou Gênese Condicionada), o qual define, do ponto de vista budista, como todos os seres/fenômenos surgem, desenvolvem e desaparecem.
Muito bem. Ser gay não é uma escolha, muito menos opção. Se assim fosse seria fácil optar por não sofrer, convenhamos que ser lgbt+ sempre foi (e é) um amargo e cruel desafio. Mas o desejo pelo mesmo sexo (por ambos, diversos ou trans) assim se expressa, se manifesta no indivíduo, sem um desejar consciente. Logo, o que falta para definir a homosexualidade como kármica é a volição, pois não há intenção em ser gay, assim como não se tem intenção de ser negro, mulher, branco, alto, baixo, pois são causas e condições múltiplas que os definem.
Alguém pediu por vontade anterior própria para nascer como se é? Creio que não.
Falta a volição dentro da originação do karma. logo ser gay não pode ser kármico. E mesmo se houver uma argumentação de vidas passadas (aí a gente volta no ensinamento do não-eu, onde não há um espírito ou alma no budismo perambulando o fluxo da vida), o que isso mudaria no presente momento? Nada, só posso cuidar de mim por ser como sou. A energia elétrica apenas flui pelos cabos, ela não escolhe por qual irá passar, ouvi estes dias. Podemos acrescentar os Cinco Agregados falado anteriormente, mas eles fazem parte dos Doze Elos.
Entretanto, saber lidar com sua homossexualidade pode resultar sim em karmas: benéficos, malignos, felicidade ou sofrimento para si e para o outro. Já um homofóbico tem caráter kármico, pois ele em sua causa (o outro), age por vontade (a raiva) e gera karma (a violência ou morte).
EM SUMA, SER LGBT+ NÃO É KÁRMICO, SER HOMOFÓBICO SIM.
O dia que a ciência comprovar variantes genéticas definindo o desejo independente do sexo biológico veremos muitos discursos estremecerem. Eles não são culpados em si, apenas é preciso contextualiza-los e sobretudo contemporizar. É o que fazem muitas vertentes inclusivas, como os Anglicanos e Metodistas. O intuito não é confrontar ou validar como as religiões definem o ser humano, cada religião traz sua narrativa e estão todas procurando dar sentido à vida. O homem precisa de um sentido. Porém, uma vez dentro delas corremos o risco de verter em dogmas e visões sobre o nosso entorno.
AI ESTÁ O PERIGO, DITAR VALORES AOS OUTROS SOB A SUA VISÃO.
O budismo investiga o ser humano sistemicamente em que ele é, como age, quais suas consequências. Na verdade, a qualidade moral do ser humano não influencia em nada a obtenção da iluminação, seu objetivo último. Estamos todos no Samsara, o mundo de Saha, dos sofrimento, logo pouco importa você ser hétero ou homossexual. Apenas seja! O Nirvana está ao alcance de todos indiscriminadamente. Está nos Sutras, nos textos sagrados discursados pelo Buda Shakyamuni.
Vamos viver a diversidade e não a adversidade!
Gassho
Rev. Jean Tetsuji釋哲慈
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