Que o racismo existe, todas as pessoas sabem. A distorção de representatividade é um dado incontestável. Que o racismo não está somente em jogadores negros sendo xingados de macaco; mas, no cotidiano “sutil” que dificulta a transformação de ex-jogadores negros em técnicos de futebol, já sabemos.
O dia da Consciência Negra é um projeto político antirracista que remonta à rememoração do Quilombo dos Palmares. O exército mais vitorioso da história do Brasil foi liderado por Zumbi e Dandara dos Palmares.  

O Movimento Negro brasileiro – entendido como todas as organizações, grupos e coletivos negros antirracistas – deu  visibilidade para o dia 20 de Novembro, data em que Zumbi dos Palmares foi assassinado pelos batalhões do General português Domingos Jorge Velho.   

As primeiras referências ao Quilombo dos Palmares foi em 1580, a morte de Zumbi foi em 1695. Mas, a resistência continuou. O Movimento Negro tomou esse projeto político como símbolo para luta antirracista. O pensador brasileiro Abdias do Nascimento escreveu uma obra chamada Quilombismo que merece estar na agenda de leitura de quem se interessa pelo assunto.

Nascimento fala em ujamaísmo, fazendo referência à palavra “ujamaa” do idioma swahili que significa algo como economia compartilhada, ou ainda, compartilhar os recursos para todas. O Quilombismo trata dos princípios políticos do Quilombo, ressaltando essa ideia de que podemos dividir as coisas. 
Pois bem, consciência negra não quer dizer algo como pintar o mundo branco de preto. Mas, tem muito mais a ver com a necessidade de trazer repertórios negros para a cena política nacional.

O diagnóstico está feito. O que precisamos continuar fazendo, reconhecendo que a realidade é mais dura do que o que gostaríamos, tem muito mais relação com práticas cotidianas.  

O momento é de reconhecer que o racismo é estrutural e não vai acabar com doses cavalares de boa vontade. O momento é de continuar trabalhando por políticas públicas e permanecer com os dedos nas feridas.

A Consciência Negra é um dia para refletirmos que a opção do antirracismo pode ser a possibilidade de construção de uma sociedade efetivamente democrática. Como o filósofo camaronês Achille Mbembe nos ajuda a refletir na sua Crítica da Razão Negra, o racismo é um dos piores rivais da democracia.

A Consciência Negra não é somente uma agenda de pessoas negras; mas, uma pauta para toda a sociedade.

Renato Noguera

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