Coletivo Indra

View Original

Meditar ou não meditar, eis a questão!

Imagem Internet

Após deixar seu palácio rumo a sua peregrinação, Sidarta Gautama juntou-se a cinco bramanes por seis anos, mas entendeu que não obtinha resultados em suas buscas. Até que sentou-se debaixo da árvore Bodhi aos trinta e cinco anos, permaneceu em estado de meditação por sete semanas e no alvorecer do último dia, na estrela da manhã, alcançou o despertar. Sidarta atingiu a Iluminação tornando-se um Buddha, um Iluminado, o Buda Sakyamuni, o Sábio do Clã dos Sakyas.

Quando nos interessamos pelo budismo, ou nos questionam a religião, imagina-se a meditação como a única coisa a ser praticada. De fato, ela é o pilar central baseada na experiência do próprio Buda Shakyamuni. Porém, a meditação é uma das práticas que o Buda exortou a seus discípulos realizarem. O Honrado do Mundo, um dos epítetos do Buda, proferiu 84 mil discursos chamados Sutras. Se dividirmos 84 mil por 45 anos de vida após ter se iluminado pregando o Dharma (ensinamentos) veremos que ele proferiu cerca de cinco por dia. É bastante, além de conviver o dia a dia com seus discípulos. Então, existe algo além do meditar nessa história. E bastante estudo!

Apesar de clérigo, não sou professor de meditação, logo não pretendo discorrer sobre o tema. O senhor não é budista, não medita? Sim sou, mas não medito sentado, o chamada shikantaza em japonês, ou zazen. O Buda em diversos sutras estabelece métodos diversos, ensina para várias pessoas de diferentes formas.

Vale lembrar ainda que o budismo é estratificado em escolas e práticas, não sendo uma coisa única. No Satipathana Sutra, um grande manual de meditações, Ele determina os métodos tanto para a meditação samatha e vipassana, e também o buddha-smriti, o recordar-se do Buda e do Dharma. E é por este último que todo budista, de alguma forma, vivencia os seus ensinamentos, as características salvíficas que nos libera do sofrimentos, dos desejos desenfreados, dos apegos acorrentados, do ciclo de nascimentos e mortes, o famoso Samsara. É algo simples, mas de profundidade. É uma forma de meditação dinâmica, ativa, verbalizada.

O que eu costumo refletir é que na Ásia as pessoas vivem duramente, como todos nós, e não há tempo de meditar o dia todo, mas existe algo além. Esse algo mais forte enraizado os acompanhando que se chama Mente/Coração Confiante, Citta-Prasadi (sânsc), Shinjin (jap.) e é uma experiência semelhante ao Satori para o budismo Zen. Ele ocorre por meio da Atenção Plena, Sathi (sânsc), Nen (jap.) ou Mindfullness em inglês, tão em moda ultimamente. É por esta Atenção Plena ao Buda que suas mente/coração florescem algo a mais e os conecta à sua Natureza Buda. E lembrar-se do Buda gera confiança, gera fé, gera paz.

No budismo Shin Terra Pura, a recitação do Nome do Buda Amida e a liturgia nos templos é uma forma meditativa. O ideal meditativo é nos alterar do mundo das paixões ao mundo da iluminação. O meditar zen, por exemplo, se levanta e vai para o ato de cozinhar, dirigir, toda ação entra em um estado meditativo e não apenas quando sentado no zafu (almofada de meditação). O mesmo ocorre com a recitação do Nome do Buda, chamado Nembutsu, Namu Amida Butsu. Ele me afasta da mente limitada e me faz compreender a realidade ultima. Namu vem de Namas, lembra da saudação Namastê? Então Namu Amida Butsu significa:

EU REVERENCIO, ME REFUGIU NO BUDA DA LUZ E VIDA INFINITA, O DHARMA QUE ME ELUCIDA, ME ESCLARECE, ME ILUMINA.

E isso pode ser feito a qualquer hora, qualquer local, por qualquer pessoa.

Ser budista é ser consciente de si, da realidade última. A meditação, Dhyana (sânsc), Chan (chin.) ou Zen (jap.) tem o objetivo de acalmar a mente e observar estes aspectos. O Nembutsu igualmente, apesar de encontrarmos teores mais amplos e que desejo falar em outra postagem. Meditar não é relaxar. O objetivo final da doutrina budista é mostrar que todas as coisas são vazias de substância própria, são interconectadas e impermanentes. Confundiu? Calma, voltaremos a falar mais! Segue um poema lindo para você tranqüilizar seu dia!

Picos nevados numa manhã tranqüila, um lago de águas cristalinas, uma caminhada pelos bosques no outono, a fumaça de um bastão de incenso na meditação matinal, o doce silvo da chaleira na sala de chá – a serenidade destes cenários ou momentos está além das palavras. A serenidade é a morada da nossa vida espiritual. Da mente tranqüila, muitos pensamentos profundos e ações dinâmicas irão brotar.

(Rev Kubose, A Arte do dia a dia)


Gassho

Rev. Jean Tetsuji釋哲慈

Instagram @jean_tetsuji @budismolgbt
Siga no instagram @coletivoindra
Templo Nambei Honganji Brasil Betsuin
www.amida.org.br