Mensagens subliminares ou leia as entrelinhas...
Todos somos preconceituosos, não há como negar.
Preconceito é ter um conceito de algo, ou alguém antes de qualquer atitude, fala ou qualquer outra coisa. Há uma teoria neurológica, sobre o cérebro trino (que não saberei explicar com precisão), mas que em si faz com que nós acionemos um dos três cérebros de pronto, fazemos coisas irracionais de pronto, sem pensar, quase como defesa. Isso é um pré conceito, um conceito pré estabelecido.
Este é um dos problemas mas não é o único. Aquela máxima que diz que ”errar uma vez é humano e que duas é burrice”, pode ser lida e interpretada mais, além ao meu ver. Continuar errando em alguns casos específicos é prazeroso para quem o faz.
Cada vez que subjuga-se pessoas, pelo gênero, sexualidade (veja bem usei duas expressões para elucidar que HÁ MUITA diferença entre ambos), raça ou situação sócio econômica, em muitos casos se sente bem com isso e prossegue, tal qual o efeito de uma droga, se sentindo superior.
Eu, por exemplo, tinha muito medo de ciganos quando era criança. É Sério!!. Minha mãe me assustou tanto para eu não me aproximar deles, com a justificativa de que “eles faziam sabão de crianças” que eu tive muito medo, e acreditei. Uma brincadeira cruel dela, e pré conceituada sabe-e lá por quem, que colocava ali um pré conceito na cabeça de uma criança inocente. E passei muitos anos da minha infância correndo, deles, dos ciganos, amedrontada. Até que, na adolescência, me apaixonei por um e embora lá dentro de mim, estivesse apaixonada, muita coisa me fazia lembrar minha mãe. Ele, por sua vez, me seduzia, por certamente perceber meu interesse. E logo que me viu envolvida, me chamou pra ser empregada na casa dele. Lembrei da minha mãe, instantaneamente, e pensei no que ela teria querido me dizer em entrelinhas, mensagens subliminares.
Passei a entender que não era “fazer sabão” o que ela queria dizer, mas tratar a gente de maneira diferente, como um objeto de uso, e não só ciganos mas homens mais velhos. O menino que me apaixone, queria que eu fosse doméstica na casa deles. Sabe-se lá (estou sendo irônica) o porquê de ele pensar, que uma adolscecente de 12, 13 anos poderia ser doméstica na casa dele; Bingo!
O círculo vicioso que diz que toda a pessoa negra é subalterna, e está ali para servir! Estava diante de mim mais um exemplo de pré conceituação.
Corpos parlamentares, são corpos que falam por si. Corpos que dizem algo por pura e simples presença nesses lugares. É como se ouvíssemos esses corpos falar coisas do tipo: “Os ciganos fazem sabão, os negros fazem limpeza” e assim por diante.
Elisa Lucinda descreveu isso pra mim, certa vez, numa conversa, e nunca, jamais esqueci. Essa leitura da “parla” dos corpos, passa por anos e anos de histórias repetidas e recontadas, e já dizia minha avó dona Maria de Lourdes: “uma mentira contada mil vezes, soa como verdade e tem gente que acredita”.
Nossos corpos falam, mas é preciso estar atento às mensagens subliminares deles. Cada detalhe. Entender que gênero e sexualidade são diferentes, que há uma construção social e significativa nessa narrativa. Que negritude e preconceito não andam juntos e sim muito separados e que não há o reverso. Que os preconceitos são pré e nunca podem ser pós. Que sexualidade, gênero, cor ou nada disso se pega por aproximação, tal qual a tecnologia desses novos cartões de banco. Que é preciso escutar ao invés de ouvir. Ouvir é mecânico, escutar envolve outras inteligências e sentimentos que não podem ser pré, mas tem de ser “durante” e pós conceito.
Desde sempre aprendemos que temos de ler as letras miúdas dos contratos, ou quaisquer papéis que assinamos. Já passou da hora de fazermos isso com pessoas também.
Valéria Barcellos
Instagram @valeriabarcellosoficial