Meu Culpado Favorito
Com o acontecido recente de Brumadinho, mais que uma tragédia, um crime anunciado, fico com a sensação que estamos no dia da marmota. Percebo uma repetição de padrão, leia-se julgamentos, quando nos deparamos com eventos catastróficos nesta dimensão. Um discurso infindável sobre de quem é a culpa? Empresários? Políticos? Pecado? Karma? Um necessidade de culpar alguém, ou um ser inanimado como se isso fosse a fonte de resoluções para o que aconteceu e as tragédias anunciadas.
Um dos nossos padrões como sociedade é sermos solidários. Uma atitude importante para as pessoas que tiveram suas vidas destroçadas. O que me faz refletir num primeiro momento, assistindo os noticiários, é que esta responsabilidade é do governo. Num segundo momento, qual a nossa responsabilidade como sociedade perante estes acontecimentos?
Exercício da cidadania? Participação política apartidária? A mobilização em doações? São ações bem vindas, mas elas precisam ser aprofundadas.
Sempre vemos o acolhimento de vizinhos dando suporte em suas casas e camas, presenciamos uma genuína mobilização em doações de comidas não perecíveis e água vindas de vários lugares do país, por motivação de civis que se compadecem com o ocorrido. E estas atitudes salvam e consolam seres humanos desolados.
Mas como nos relacionamos com itens tão preciosos em nosso dia a dia? Pessoas, comida e água?
Sobre o desperdício de comida, de acordo com a FAO (agência das Nações Unidas preocupada em erradicar a fome), 54% do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da produção, que é composta pela manipulação pós-colheita e pela armazenagem. Os outros 46% do desperdício, de acordo com a mesma fonte, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo.
Quando lembramos que todos os dias 870 milhões de pessoas passam fome, esses dados sobre desperdício de alimentos se tornam aterrorizantes. Fonte
Já quando o assunto é água o desperdício no Brasil é ainda mais elevado, atingindo um volume total correspondente a 38,8% de toda a água tratada, segundo dados do Ministério das Cidades. Em algumas regiões, como o Norte e o Nordeste do país, esse índice ultrapassa os 50%, revelando a carência de medidas para o combate ao desperdício que vão além de uma mera conscientização social da população. Fonte
E o desperdício de pessoas? Desperdiçamos potenciais humanos no Brasil por julgamentos de classe, cor, credo, orientação sexual e condições sociais.
Ser um observador cúmplice de uma tragédia eminente é um ato de desperdício.
Qual é o seu culpado favorito?
Everton Asao
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