Coletivo Indra

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Mirem-se nas mulheres… do mundo

Deusas: Nossa Senhora, Oyá, Kannon e Lakshmi

Alguns meses atrás recebi um convite pela World Council of Churches, com sede em Genebra, a participar de um diálogo inter-religioso entre cristãos, islâmicos, budistas e hindus. Este evento ocorre há 60 anos, cada vez em uma cidade do mundo. O intuito é trocar reflexões e estudos em como a sociedade se comporta e se atualiza em cenários social, político, ambiental e comportamental sob o olhar, no caso, de quatro importantes religiões e assim buscar por soluções e propostas em apaziguar o mundo que vivemos.

Durante três dias, herméticos em um hotel da capital queniana, Nairobi, realizaram seis mesas de debates por 18 participantes, três por mesa, nos assuntos Raças, Classes Sociais, Mulheres, Sexualidade, Meio-ambiente e Poder. Aqueles em sua maioria eram intelectuais, sociólogos, historiadores, filósofos, professores de universidades. Fora destas atuações estavam eu e uma pastora sul-africana da Igreja Reformada Holandesa, contribuindo com a vivência das comunidades de base, diferente do meio erudito, e articulação com questões sociais. Do budismo éramos quatro participantes, dois de escola japonesa eu do Shin e um do Zen norte-americano, um estudioso da Índia e uma pesquisadora de Bangladesh. A mim foi designado falar sobre mulheres no budismo e sua liberação. Desafio à vista.

No meu artigo abordei quatro tópicos: uma breve história do budismo, visão budista sobre a vida, o budismo Shin e sua liberação do sofrimento e a violência social em mulheres e propostas para melhorar este quadro.

Num primeiro momento refleti, falar de mulheres? Meu espaço de fala não é esse. Tenho esse direito? O melhor seria a mesa Sexualidades e aí sim eu entraria com a pauta LGBT. Mas como a vida é causalidade e não casualidade, sim, a fala sobre elas também precisa ser do homem, começando por pedir muitos perdões a todos sofrimentos históricos e a apreender a condição feminina em sua totalidade.

Foi um tanto nebuloso falar daquilo que não me dói, mas apenas imagino. A situação me fez refletir porque as coisas são como são, porque dos sofrimentos femininos, e encontro sempre as mesmas respostas: as narrativas dadas à figura humana por homens e para homens, sobretudo pelo dogma religioso, e definindo o corpo e a alma da mulher. Sem delongas, o assunto é extenso e seria injusto reproduzi-lo num post, convido a quem desejar ler (sem formatação para ser rápido) o artigo na íntegra, acesse aqui.

Homens, parem de ser homens, sejam humanos; gênero é apenas uma expressão, uma convenção de várias vidas e não um fundamento ou ferramenta de poder. No budismo alguns rosários são feitos de contas de caveiras. Quando ganhei o meu, fiquei horrorizado. Depois me faz refletir que sem o verniz do transitório, somos todos iguais, mas ao mesmo tempo diferente.

E rapidinho para terminar, pois é outro assunto extenso. Sendo minha e de muitos a primeira vez na África, fomos agraciados pelo comitê de organização com um passeio ao Orfanato dos Elefantes e ao African Heritage House. E me dei conta que lá eu era o deslocado. Todas as propagandas e personagens eram negros. Eu era o branco, o marginalizado, o diferente, justamente na semana que não enviei o post para o blog, dedicado ao protagonismo negro, é vestir o sapato do outro.

Com os olhos toldados pelas paixões,

Não vejo a Luz que me envolve e abraça;

Mas a Grande Compaixão, sempre incansável,

Constantemente ilumina minha pessoa.

Poemas (wasan) de Shinran Shonin, mestre da escola Jodo Shinshu


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Rev. Jean Tetsuji釋哲慈

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Templo Nambei Honganji Brasil Betsuin
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Referencias dos lugares mencionados

https://www.oikoumene.org/en

https://www.sheldrickwildlifetrust.org

https://africanheritagehouse.info