Coletivo Indra

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Morder, Assoprar, Amar

Imagem do filme : Comer, Rezar e Amar

Eu tenho certa dificuldade pra falar que amo alguém. Mentira! É uma dificuldade desmedida mesma, a vera, grande. Hoje em dia todo mundo diz que ama, assim naturalmente, como respirar. O povo diz mais eu te amo do que bom dia. É um eu te amo pra lá, amo você pra cá... Quando vejo um participante de reality dizer que ama o outro com uma semana de convivência me dá ginge, ojeriza, urtiga minh’alma.

Sete dias de convivência compulsória e já ama. Como assim? Que amor é esse?

Se bem que participante de reality show não é parâmetro, né... Nada contra os ex. Na fazenda, nas férias ou na casinha do bbb. São pessoas e profissionais em busca de um lugar ao sol. Meio sombra, meio fresca, meio filtro. Não sou team Natália do Vale, tá?

Beijo, Grazi. Não te amo, mas sou fã. Passei a te admirar. Você cresceu muito, garota! Eu acho que tudo é estudo, dedicação, comprometimento. Claro, que um empurrão midiático conta muuuuuuuuuito também. O que não dá é essa fábrica descontrolada de atores-modelos-influencers. Não dá pra se fazer ator, atriz de uma hora pra outra, num bater de claquete, né?

É preciso no mínimo conhecer Kafka, Stanislavski... É igual ser... Heresia! r escritor ou escritora sem sequer conhecer Machado de Assis, Conceição Evaristo, Clarice Lispector

Não que o conhecimento teórico determine tudo. A sabedoria popular, na lida ardilosa da vida tem um valor único, precioso. A teoria não determina o todo, mas é um lastro importante pra equilibrar a balança.     

Por tudo isso, eu evito falar que amo alguém. Até quando realmente eu amo, suprimo, oculto, verbalizo mentalmente, emano pro universo soprar no ouvido da pessoa amada. E sempre que escuto alguém falando “amo você” e suas variantes, volto a aula de teatro. Sim, sou ex-ator. Fiz teatro por 2 anos. E o que não falta num curso de teatro é alguém enchendo a boca dizendo “eu amo o teatro” na apresentação da aula inaugural.

“O teatro é minha vida!”. Blasfêmia! Mal articulam a boca para falar, mas têm muito amor para dar. Os mais apaixonados são os menos conscientes e articulados. Não é regra, é constatação.

Tá, é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Mas não precisa ser todo mundo o tempo todo, né. Quem ama todo mundo acaba não amando ninguém. Nem a si, nem ao outro, muito menos o ofício que escolhe seguir.

 

Corta!

(uma voz grita ao fundo)

Felipe Ferreira

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