O CONHECIMENTO PODE SER PERIGOSO
Recentemente eu li uma notícia que saiu no El país e fiquei sentida:
“Entre a Amazon e a pressão por mais tributo, como é difícil a vida das livrarias de rua no Brasil”.
O sentimento veio porque se noticia o fechamento da livraria que acredito, nós soteropolitanos temos muito carinho: O porto dos livros.
O lugar ficava no porto da Barra, local conhecido pelo sedutor pôr-do-sol a beira mar. Eram tantas gentes que passavam por ali, eram tantas. E lá, quase que escondido, ficava o sebo. A portinhola dava a sensação que estávamos entrando em outro lugar.
Subíamos as escadas e chegávamos ao Porto dos Livros. O café ficava ao centro e a visão panorâmica do mundo lá fora nos dava o conforto de que apesar do barulho da cidade havia espaço para nós entre os livros.
Essa livraria como tantas outras Brasil a fora estão sofrendo com o mercado virtual. Cadu Perol em “Uma pepsi na livraria, pode ser?” nos lembra que por mais que sejamos leitores vorazes de romances clássicos, por exemplo, nada nos impede de gostar também de um bom livro de poemas.
Ou livros de viagens, de história e de ciências. Mostrar esses títulos “nada a ver” com nossas preferências, nem Amazon, nem a estante virtual, com seus algoritmos farão por nós. Porque falta algo, falta um livreiro.
“Falta a autêntica experiência de se perder em uma biblioteca de babel.”
E a coisa vai piorar caso o projeto de lei, que está tramitando na Câmara dos deputados, nº 3.887/2020, que propõe a extinção da alíquota zero para os livros, jornais e periódicos e a taxação de 12%, entre em vigor. A receita federal argumenta a favor da taxação afirmando que não são mercadorias consumidas por famílias pobres.
A leitura não pode se tornar um artigo de luxo para ricos, é um direto e deve ser assegurado para todos. Ainda mais num país onde o acesso à educação de qualidade é atrelado aos hábitos das classes altas e médias. Se aprovada, por motivos óbvios, a medida dificultaria ainda mais o acesso à educação e à cultura.
Além disso, como privar cidadãos do acesso ao livro sendo que estamos vivendo em uma época de escritores? Se a invenção do livro impresso transformou todos em possíveis leitores, a invenção da Internet e consigo as redes sociais criou autores. Mas como falar em autores num Brasil em que temos aproximadamente 11 milhões de analfabetos (dados do Pnad 2019)?
Se esse projeto de lei foi aprovado, terei a certeza de que estaremos vivendo no mundo “Distópico de Fahrenheit 451 “em que os livros são proibidos em um ambiente averso à intelectualidade, no qual narrativas que questionam o conhecimento científico são tão correntes.
Se esse projeto de lei for aprovado nos preparemos para vermos pilhas e mais pilhas de livros serem queimados em praças públicas, na exata temperatura de 451º Fahrenheit ou 232º celsius.
“Eu prefiro antes o calor do porto da Barra...”
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