Coletivo Indra

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O elo esquecido da gastronomia

Vamos falar de comida ou melhor de gastronomia que explodiu nos últimos 15 anos e migrou de estranha desconhecida para a “queridinha da casa”. Muitos são os querem ser chefes, essa figura imponente associada ao poder, autoridade e riquezas. Mas é isso mesmo?

MUITOS QUEREM SER CHEFES, PORÉM, POUCOS QUEREM PASSAR POR TODAS ETAPAS NECESSÁRIAS COMO LAVAR LOUÇA, LIMPAR O CHÃO, AJUDAR NA COZINHA, DENTRE OUTRAS.

Mas o que todos concordam é que o chefe deve saber escolher e usar os melhores ingredientes para fazer seus pratos sofisticados e adornados, mas de onde vem esses produtos mágicos? Ora de mercadões, feiras livres e fornecedores selecionados. Esses ingredientes vêm da terra, quem trabalha nela é tão ou mais importante que o chefe, mas quando se fala de “alta gastronomia” são poucos que colocam a figura do agricultor na equação.

A agricultura que era um símbolo de domínio e poder do Homem sobre a natureza, quando passamos de caçadores e coletores para produtores. Nossa sociedade no meio de tantas indústrias e tecnologias deixou que o agricultor e seu oficio perdesse a sua importância e visibilidade, porém é impossível sobrevivermos sem esse oficio que é uma arte para poucos. Falamos muito sobre agrotóxicos, alimentos transgênicos e um futuro incerto para a humanidade, que pode ser causado pelo aumento populacional e por consequência redução de áreas para produção de alimentos.

TALVEZ A SAÍDA SEJA OLHAR PARA AGRICULTURA E REPENSAR SEUS MODELOS.

O agricultor conhece a terra sabe mantê-la fértil, as estações do ano, a melhor hora de plantar e de colher. Um bom chefe, associado a um agricultor consegue os melhores ingredientes e no estágio desejado, desde brotinhos a micro saladas.

MAS PORQUE MUITOS QUEREM SER CHEFES E POUCOS AGRICULTORES?

Isso tudo está ligado a um preconceito, que coloca o chefe no topo da pirâmide da gastronomia e o agricultor como figura oculta, muitas vezes esquecida. E isso reflete diretamente na nossa maneira de comer! Um amante da gastronomia deveria ser também amante da terra. Por que não ter um "terroir” das nossas frutas legumes e vegetais? Valorizar a terra e despertar o interesse da população sobre as práticas agrícolas? Só entendendo a terra podemos dar o devido valor a nossa comida, valor este que não é aquele valor da famosa “gourmetização“, mas sim o valor do ingrediente, de quem cultiva e de como cultiva.

Muitos brasileiros passam fome, mas o problema não é a falta de comida, e sim a distribuição e o desperdício. Enquanto tratarmos a comida como centavos, sem valor ou utilidade, nunca entenderemos o valor de cada planta que foi semeada, regada, protegida e que deu muito trabalho para ser cultivada. 

O elo esquecido da gastronomia é o agricultor! Pois esquecemos que se não tivermos quem plante não teremos o que cozinhar e sem ele não existe a gastronomia e o chefe é um mero coadjuvante nessa história.

Diego Brasil

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DIEGO SANTOS

ESPECIALISTA EM GASTRONOMIA COM GRADUAÇÃO INTERNACIONAL PELA UNIVERSIDADE DE CIÊNCIAS GASTRONÔMICAS NA ITÁLIA.

VIAJOU VÁRIOS PAÍSES PARA CONHECER CULTURAS GASTRONÔMICAS E PROJETOS SOCIAIS. AINDA NO BRASIL TRABALHOU POR DEZ ANOS NA COZINHA ONDE EXERCEU TODAS AS FUNÇÕES, DESDE, PIA ATÉ CHEFE EXECUTIVO.

COAUTOR DO LIVRO A "ARCA DO GOSTO NO BRASIL" PUBLICADO PELA EDITORA SLOW FOOD NO ANO DE 2017.

ATUA NA ÁREA DE GASTRONOMIA SOCIAL, QUE UTILIZA A GASTRONOMIA COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL.

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