O que você pratica todo dia?
“Então minha pergunta para você hoje é:
O que você pratica todo o dia?
Pois você se torna bom naquilo que pratica.
O que você pratica?
Você pratica alegria em sua vida?
Você pratica paz em sua vida?
Você pratica felicidade em sua vida?
Ou você pratica muita reclamação?
Pois se você reclama, ficará muito bom nisso.
E ficará tão bom nisso que achará defeito em tudo.
Mesmo quando não há defeitos, que um leigo não possa ver, você sendo um especialista, irá ver.
O que você pratica?
Você pratica a raiva?
Pois se pratica a raiva, ficará muito bom nisso.
E ficará tão bom nisso que o acontecimento mais trivial o deixará com raiva.
Como sentar no avião e ver que o assento da frente aparenta ser melhor do que o seu. Isso é muito injusto por parte da Companhia Aérea.
O que você pratica?
Você pratica estar preocupado?
Pois se você pratica a preocupação, ficará muito bom nisso.
E ficará tão bom nisso que tudo o preocupará, inclusive os problemas que você não tem.
Então, se tudo é uma questão de prática, eu proponho a prática da alegria.”
Essas palavras foram ditas por um menino indiano e, gravadas,viralizaram na internet. Ele as diz de uma forma tão simples que é praticamente impossível não se encantar.
Mesmo antes desses tempos de conservadorismo e destruição de direitos que, diariamente, nos dão motivos para reclamar, eu venho pensando sobre isso: de que serve a reclamação e por que reclamamos tanto?
A palavra re-clamar pode ser lida como: clamar duas vezes. Estamos, portanto clamando em dobro por aquilo que reclamamos.
Há, claro, uma reclamação que, seguida de uma ação para transformação, é bastante importante para a evolução das coisas. Mas o simples hábito, a prática de reclamar, além de justificar a inação, esconde o que?
Talvez uma soberba, uma presunção de que, se aquilo fosse feito segundo a forma que eu penso seria muito melhor. Pois tenho as respostas certas, sei o caminho das pedras. Quanta arrogância: o mundo segundo meu ponto de vista seguramente seria perfeito. Por isso, reclamo daquilo que não é como eu penso que deveria ser! E também não faço nada prático para transformar o que discordo. Apenas, reclamo!
E a prática da reclamação, assim como da raiva e da preocupação, vai construindo uma tal atmosfera ao redor de mim e das pessoas com quem convivo, que passamos todos a gravitar em torno desses estados destrutivos.
Enquanto a prática da alegria emana a energia que precisamos para enfrentar esses tempos. Mesmo por que os que cultivam a raiva são cada vez mais incapazes de viver a alegria. E é por isso, também, que temem a cultura e os artistas. Onde há cultura bem desenvolvida, onde a arte tem espaço e liberdade, as pessoas são mais alegres, mais educadas, mais compreensivas. Têm seu mundo mais amplo.
Por isso, acolho a proposta do menino indiano: tento praticar a alegria diariamente. E percebo concretamente o quanto recebo alegria de volta. Quanto mais educado sou,mais bem tratado sou. Quanto mais arte estimulo, mais belos são meus dias.
Sei que isso não basta para impedir a destruição que estamos presenciando. E que precisamos, mais do que nunca, agir individual e coletivamente para impedir barbáries e construir novos mundos possíveis. E justamente por isso precisamos praticar a alegria, pois elanos torna mais potentes para lutar!
Renato Farias
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