Coletivo Indra

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O que você veio fazer aqui?

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“A plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, se acumulam, se exaltam e se mesclam o trabalho, o estudo e a brincadeira; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo.... É o que eu chamo de ócio criativo, uma situação que, segundo eu, se tornará cada vez mais difundida no futuro.“ —

Domenico De Masi

Em 2017 eu fui convidada a dar aula de “Conteúdo e Construção de Imagem” no curso de comunicação que eu tinha acabado de me formar. Mais uma vez um novo desafio e claro que topei. Mas ao sentar para elaborar as aulas, eu me deparei com perguntas básicas de quem prepara aulas: “por onde começo”, “qual a sequencia do conteúdo programático”, e o que eu, especificamente, que acabara de me formar no curso teria a agregar para novos alunos.

Chego na primeira aula e como muito corriqueiro, nada começa como você tinha programado. Uma turma de adultos, heterogêneos, diversas profissões, idades e estágios da vida. Quando vi estas pluralidade fiquei pensando o que poderia ser em comum, então perguntei:

“QUAL O SEU PROJETO DE VIDA?"

Claro que eu esperava um falatório de respostas animadas. Mas o silêncio se fez. Neles e em mim, ao colocar a pergunta no espelho das minhas escolhas.

Somos direcionados a estudar (nem todos), trabalhar (todos), ganhar dinheiro (todos), construir uma “carreira” (nem todos), para se sustentar e sobreviver em sociedade. Cada um dentro das suas causas e condições. E neste corre desenfreado atrás de trabalho e sobrevivência nos alinhamos com significados da palavra trabalho: "labor", "sacrifício":

A palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino “Tripallium” – denominação de um instrumento de tortura formado por três (tri) paus (pallium). Desse modo, originalmente, “trabalhar” significa ser torturado no tripallium.

E ai? Qual o peso e equilíbrio entre a "tortura” e os propósitos de vida em nossas escolhas?

Vejo algumas pessoas hoje aposentadas, que conquistaram este direito ainda jovens (meados dos 50 anos), cumprindo toda a trajetória das obrigações de sucesso material, sentadas no sofá gastando seus futuros dias em redes sociais, conversas infrutíferas sem interesse de continuar aprendendo com os dias. Estas jamais foram convidadas a pensar sobre seus projetos de vida!

Porque não somos convidados a pensar sobre isso! Nem na escola onde as coisas na maioria das vezes vem prontas e seguem gabaritos. Não somos estimulados a pensar em algo maior que trabalho, pensar em projetos que podem sim ser trabalhos também, propósitos e valores de ofício. Pois são poucas as pessoas de pé neste planeta que tem a oportunidade de alinhar propósito de vida com o oficio!

E quando digo projeto de vida, pode ser desde coisas mais complexas até as mais simples, projetos possíveis de andar em paralelo com nossa luta pela sobrevivência. Escrever um livro? Distribuir sopa e ajudar pessoas em condição de rua? Ensinar alguma habilidade para outras pessoas? Curar o outro? Fazer uma viagem de autoconhecimento? Abrir uma barraquinha de doce na feira? Viajar o mundo a pé? Costurar roupa para bonecas usadas e doar? Tocar um instrumento numa banda de carnaval?

São tantas coisas…. O que mais? O que você pensou ai?

Faça uma brincadeira: se não houvesse a necessidade de trabalhar / "tortura", como você daria sentido para seus dias?

Qual o seu projeto de vida? Seu propósitos? O que você veio fazer aqui?

Gaby Haviaras

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Nota: Meu avô materno, descobriu aos 70 anos que gostava de fazer biscoitos e distribuir para as pessoas na rua! O sorriso e a leveza não lhe saiam do rosto! ♥