Segundo diversas culturas, completar 15 anos inaugura uma nova fase na vida das pessoas, e diversos rituais são associados a esse momento. Preenchidos de significado e entrega, esses rituais fortalecem identidades e recriam os laços que sustentam o funcionamento dessas sociedades. 

Na cultura ocidental, porém, os rituais foram perdendo espaço e se transformando em eventos destituídos de profundidade. Transformaram-se em festas e celebrações que, muitas vezes, não têm compromisso com transformações mais profundas. E que acabam permeados por preconceitos fundantes da nossa cultura, como o machismo, por exemplo. No interior, de onde vim, esse momento marca a apresentação da menina para a sociedade: a debutante. E o menino é levado para perder a virgindade com uma prostituta: o macho. Eis uma síntese do que se transformaram nossos rituais. Uma marcação violenta de lugares na sociedade: a mulher deve se mostrar o mais atraente possível para encontrar um bom marido; enquanto o homem, inaugura sua vida sexual deslocada do sentimento amoroso, colocando a mulher como objeto para seu prazer.

Também de um ritual nasceu o teatro. E segue atrelado a ele. Grupos e companhias mantêm diversas ritualidades em seus ensaios, criações e apresentações. Quem já fez parte ou presenciou esses momentos entende o quanto são importantes para o fortalecimento das relações entre quem faz e quem assiste teatro. 

A Companhia de Teatro Íntimo está completando 15 anos e tinha preparado um grande evento presencial para marcar essa data. Dentro das impossibilidades do momento, transferimos nossa celebração (com todo o respeito ao difícil momento que as pessoas estão enfrentando) para as redes sociais. E buscamos compreender o que significa estarmos juntos há 15 anos.

Assim, pensamos em recuperar fatos marcantes da nossa trajetória, com vídeos e fotos, e pedir depoimentos aos que estiveram presentes: atores da própria companhia, atores que participaram da nossa história e o próprio público que nos acompanha. 

O resultado está diariamente no Instagram (@teatrointimo) , no Facebook (Companhia de Teatro Íntimo) e no youtube da cia. Durante 15 semanas, teremos surpresas diárias, repleta de afeto e alumbramento. Cada semana vai relembrar um espetáculo. E às quartas feiras, faremos uma live semanal, atualizando as discussões levantadas em cada um desses trabalhos.  

Mais do que recuperar nossa trajetória, as lives pretendem marcar nosso posicionamento político nesse momento em que, mais do que nunca, é fundamental a marcação de posição de todos, especialmente dos artistas. 

Nos encontros já realizados, as falas se debruçaram sobre o machismo, o racismo e a lgbtfobia. E nossos convidados representam a pluralidade do país: são mulheres, homens, pretos, brancos, trans, cis e de diversas orientações sexuais. 

Para quem não conseguir acompanhar ao vivo, as lives ficam gravadas no Youtube (teatrointimocia). Já falamos sobre HIV, masculinidades diversas e feminicídio. 

Seguiremos por mais 12 semanas conversando sobre temas como: democracia, velhice, prostituição e, claro, com muita poesia. Pois, afinal, a poesia também é um ato revolucionário! 

É assim que queremos fazer a transição dos 15 anos. Entendendo nossos privilégios e os utilizando para que outras vozes, outros corpos, outras narrativas sejam vistas e ouvidas. 

Junte-se a nós nesse ritual que, ainda que virtual, está repleto de significados, e que propõe caminhos onde a igualdade e o respeito são a tônica do mundo que queremos criar. 

Evoé!

Renato Farias

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