Coletivo Indra

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Olhei tudo que aprendi com elas

Ilustração de Fernanda, @asteracea_

“A arte dramática é feminina, tenho certeza. Existem muito mais atrizes deslumbrantes do que atores. Muito mais personagens femininos deslumbrantes do q masculinos. E viva as mulheres!”.

 Esse foi o tuíte do ator, diretor, escritor e educador da Satyros & SP Escola de Teatro, Ivam Cabral, que li dias atrás. Caracteres que além de ganharem minha curtida me fizeram divagar sobre a força entranhada no mistério da concretude e da metafísica delas.        

 Pensei nos livros, nos filmes, nas novelas, nas canções, nas peças de teatro que cruzaram comigo durante minha trajetória e concluí que as personagens femininas me são mais marcantes, me tocam mais fundo. A certeza que moveu a constatação do Ivam foi a mesma que arroubou o ponto de partida desse ofertório frágil, opaco e em aprendizado contínuo.     

 As mulheres sempre ocuparam o centro da minha perspectiva de início, meio e fim. Da ala materna ou paterna, avós, tias, madrinha e minha própria mãe, são as referências familiares que sempre estruturaram meu conceito de mundo, de sociedade, de seio. Ainda que algumas delas reproduzam discursos contraditórios às demandas contemporâneas do feminino, elas representam, de alguma forma, a ruptura de mecanismos opressores.      

Nesse momento de grande alcance e reflexão da luta feminista é de extrema importância tirar a masculinidade da sua redoma de culturas invioláveis e debater o machismo tóxico, histórico e estrutural - ao qual somos moldados e doutrinados desde criança - de forma aberta e compassada pelo protagonismo delas.  

 Em mais um 8 de março, nós homens, devemos nos colocar com humildade no lugar das mulheres sem reduzí-las a símbolos genéricos que oprimem e cerceiam a liberdade sexual, social, maternal e de escolha. Que a demanda feminina não seja reduzida a histeria, a TPM ou a falta de um macho de “verdade” pra solucionar o “problema”.  

O brilho de uma mulher após dar a luz é tão reluzente quanto o brilho de uma mulher que decide não ser mãe. A força motriz da sua natureza não se limita aos papéis sociais que a história obrigou-a desempenhar. 

 Recentemente, fui chamado de feminista por um colega de trabalho, como um predicado pejorativo, um demérito da minha personalidade. Encarei como elogio. Sou feminista sim e todos os homens deveriam ser. O homem é um machista em potencial. Reproduzimos comportamentos misóginos e sexistas todos os dias sem percebermos. E não vale usar a rasa justificativa de que “eu não sou machista porque tenho mãe” ou “em casa eu convivo com mulheres”. O que determina o machismo não são relações ou laços familiares, e sim a forma com que agimos e nos comportamos diante uma mulher seja ela quem for. 

 Dedico esse texto a Rosângela Gomes, uma grande amiga, que faz aniversário no domingo, e a todas as mulheres que me encantam, me inspiram, me fazem entender o real significado de ser homem. Como disse Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se mulher”. E é com elas que eu aprendo a ser o que sou. Rompendo a lógico da imagem e semelhança, são elas que me fazem ter consciência do meu lugar de privilégio e da importância de reparar historicamente essa desigualdade de gênero, de existência

Viva Deusas Mulheres!

 Felipe Ferreira

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*título em referência a música “Masculino e Feminino” de Pepeu Gomes.