Coletivo Indra

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Olho no olho

Ilustração Gloria Pizzilli - Via Pinterest

O assunto de hoje é motivado por acontecimentos do consultório que se tornam fonte das minhas colunas no Blog. Há mais ou menos dois anos atrás uma paciente me revelou que amamentava com o celular ao lado do bebe, porque aproveitava aquele tempo que não estava “fazendo nada” e a mamada era demorada, para ver suas mensagens no Wats.

Fiquei assustada e ela me desafiou a fazer uma pesquisa, pois isto era comum entre muitas mães. Para minha surpresa ela estava certa.

Falei para ela que era importante amamentar e aproveitar aquele momento para olhar para seu filho, mexer em sua mãozinha e curtir aquele momento quase sagrado. Lembro que era muito especial este momento em minha vida. Esta conexão com seu filho. Tinha sido ensinada a agir assim. Os livros ensinavam isso na minha geração.

Amamentar , além de fornecer o leite, cria um vínculo e promove uma comunicação e um despertar. Através desse ato cheio de amor e carinho, promovemos uma troca de cheiros, carícias, olhares e sentimentos que vão oferecendo ao bebê outro tipo de alimento: o afeto.

A criança que mama se sente feliz e mais receptiva à aprendizagem, se conecta ao ambiente, enraiza. Essa sensação física e emocional potencializa o amadurecimento de muitas estruturas neurais. Até chegar o dia que seu filho te olha nos olhos.

A criança vai começar a fundamentar o processo de comunicação graças a interação que sua mãe oferece ao dar o peito. Durante as primeiras semanas de vida, a criança se comunica pelo olfato, e alcança o olhar num raio de 50 cm.

As interações de mãe e filho são muito profundas, pois começam a vida a conexão com o bebe, enlaçados por um cordão, pulsando num mesmo ritmo em seus corações. O útero é esta casa aconchegante que permite ao bebe viver no balanço do caminhar de sua mãe, escutar seu coração, seu estômago, digerir seus alimentos, escutar suas músicas e viver suas emoções, boas ou ruins.

Todas as nossas experiências de perda, se relacionam com a perda original da mãe, porque mesmo após o nascimento, vivemos num estado de identificação completa com nossa mãe. É uma fusão tão intensa que o bebe não consegue se diferenciar de sua mãe: “não sei se sou eu ou minha mãe” essa separação começa depois de oito meses, assunto que já abordamos anteriormente.

Essa conexão não se rompe, ao contrário se mantém mais forte ao longo do tempo.

Mas é importante que estejamos atentos ao olhar de nosso filho, a primeira comunicação do bebe é através do olhar. O sorriso e o balbuciar vem depois.

É muito importante quando amamentar, olhar para seu filho, ficar envolvida nesse  enlaçamento, conversar com ele, acariciar ele. Estar ali por inteiro. Não só o bebe precisa olhar para você, mas você precisa olhar para seu filho.

Existem alertas para nos preocuparmos com algumas reações de nossos bebes, que podem nos orientar, quando observadas, para introdução de uma intervenção precoce.

Julieta Jerusalinsky, psiquiatra, veio nos dar  um curso sobre indicadores para diagnóstico precoce de patologias da infância. Nos diz ela que:

mais importante que encontrar sinais de patologias, é encontrar brechas que possam ser ampliadas no tempo da infância.  É preciso detectar dificuldades para intervir precocemente favorecendo a constituição.

Considera o melhor diagnóstico para encaminhar para uma intervenção precoce o “não está bem” e ponto, não precisa haver risco específico de ......... Introduzir a patologia na vida dos bebes, com aplicação de protocolos específicos de patologias que buscam traços de transtornos, induzindo pais numa relação com o filho através da lente da patologia é menos interessante do que operar estas patologias.

Nos faz a pergunta:

EM QUE DIREÇÃO CAMINHAREMOS: NO DA INTERVENÇÃO PARA FAVORECER A CONSTITUIÇÃO OU NA DIREÇÃO DE UMA PATOLOGIZAÇÃO PRECOCE?

E nos fala:

Os adultos estão muito ocupados e nas poucas horas livres exaustos. Cada um se abstrai, navegando em suas janelas virtuais. De corpo presente, mas psiquicamente ausente. Portanto no dia a dia estão impacientes para cuidar de seus filhos e esquecem que educação implica num ato de comunicação transmissão e invenção.

Vamos olhar mais para nossos filhos!!!!!

imagem pinterest

DEIXAR O CELULAR LONGE DE NÓS NESTES MOMENTOS DE CONTATO ÍNTIMO E DEIXAR ELES LONGE DOS CELULARES.

Temos que pensar que nos primeiros meses , o bebe  está despertando para a vida e cada olhar, cada gesto, cada carícia, cada palavra, estimula a sua mente e cada olhar nosso orienta o olhar do mundo.

Hayde Haviaras

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DICA DO COLETIVO_INDRA