Coletivo Indra

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Pequenos Abusos

Resolvi encerrar esta semana com um papo bem leve, bem tranquilo para gente refletir: “pequenos abusos”. Estamos num momento que muitas pessoas chamam de "complicado” com o “patrulhamento” do “politicamente correto”. Vivemos numa sociedade de colonização machista e escravocrata que traz no subsolo das nossas atitudes, palavras, julgamento e o exercício diário dos pequenos abusos.

E quando digo isso, não estou me referindo apenas a nós mulheres (homoafetivas e heteros), que nos sentimos as mais vulneráveis, sofremos e nos submetemos diariamente em situações diversas de pequenos abusos. Mas homens (homoafetivos e heteros) também sofrem pequenos abusos.

O que estou chamando pequenos abusos? Situações corriqueiras que ficamos constrangidos e não sabemos como lhe dar perante pessoas estranhas ou não próximas. Pois perante um pequeno abuso sempre há alguém desconfortável, constrangido e outro alguém achando que está se prevalecendo ou até “enaltecendo” o outro. Isso para não chamar de assédio o que pode vir a ser algo grave dependendo da situação.

Sentar-se num taxi e o motorista perguntar para onde você vai, o que você fazer lá, com o que trabalha porque você é muito bonita e mulher bonita não devia trabalhar, é desnecessário e constrangedor ouvir. Você ser questionado ou virar piada por sua roupa, no trabalho ou do seu estilo de cabelo e acessórios é constrangedor. Você ir à padaria e comprar sempre com a mesma moça tentando fazer graça pra ela porque ela é uma gata, é constrangedor. Ou todo dia ter que aceitar piada sem graça te desqualificando do seu chefe, porque é seu chefe, é constrangedor.

Quantas situações constrangedoras você passa na rua com estranhos, ou no seu próprio trabalho e não sabe que isso é abuso, mas constrange? Ou quantas vezes você constrange alguém e não percebe com suas atitudes socialmente “aceitas”, "piadas”ou "brincadeiras”?

Ai vem a turma do "deixa pra lá": Nossa que gente chata, não pode mais dizer que mulher é bonita? Não pode mais dar cantada? Não pode mais fazer uma brincadeira com o amigo que cortou o cabelo estiloso ou que engordou? Não pode mais ser simpático com a vendedora? Acho melhor você pensar melhor nas suas atitudes, as coisas estão mudando e talvez você fique para trás, na sua caverna, não pensando sobre suas "brincadeiras”.

Agora se a gente partir para abusos e assédios dentro das relações, sejam elas amorosas de todos os gêneros, as parentais aí a lista cresce mais e a atenção redobra porque elas podem estar sobre o véu do amor, dos laços, dos afetos. Somos apegados, temos posses, queremos manter o controle sobre nós e sobre os outros. E os abusos começam quando queremos controlar.

 Abusos de qualquer dimensão, com estranhos ou conhecidos, tem diversos tipos: emocional, moral, psicológico que pode incluir ameaças, econômico, patrimonial, sexual, de isolamento, de invasão, físico.

Que podem provocar: Insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, ridicularização com palavras e atitudes, rejeição, manipulação de emoções e afetos, exploração (de sentimento, financeira ou sexual), negligência de cuidados a atenção, privação de liberdades (de aparência, financeira, intelectual), críticas e depreciação.

Enfim, não estou entrando nem na seara dos abusos e assédios que incluem violências físicas e sexuais, e de menores. Estou provocando uma reflexão a ser feita no dia a dia, nas nossas relações, com as pessoas que cruzamos nas ruas no nosso ir e vir, no nosso trabalho. Sejam situações que vivemos ou apenas presenciamos. É preciso pensar sobre isso, os tempos estão mudando. Ou até para se dar conta que você está se submetendo a algum tipo de "pequeno abuso” ou praticando.

 

Gaby Haviaras

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