Coletivo Indra

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Por que os homens vivem menos

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Há uma conta no twitter chamada: pq os homens vivem menos. É, digamos, uma coleção de vídeos bastante curiosa.

Tem uma série de “brincadeiras” que, invariavelmente, acabam mal. Por exemplo: homens que atam foguetes de artifício no próprio corpo e... o acendem! Valentias que desaguam em pancadaria. Manobras com skate perto de trens em movimento. Acrobacias em áreas de grande risco. Alguns bebem líquidos com fogo que acaba se espalhando pelo rosto e corpo. E até cabelo sendo cortado com martelo e machadinha.  

Assistir a cenas desses machos desafiando a si mesmos e a outros machos, inventando brincadeiras onde acabam queimados, machucados ou quebrados pode, algumas vezes, render algumas risadas. Mas pode também despertar outros sentimentos. Como pena dessa necessidade constante de mostrar o quanto são machos.Essa prisão que a cultura machista impõe, com limites muito definidos do que um homem pode ou não pode fazer, deve ou não deve sentir.

Interessante perceber os momentos de desespero, quando os aventureiros percebem que algo saiu do controle e que as consequências podem ser bem dolorosas. Nestes momentos, parecem crianças em pânico.

Outra percepção possível é a postura que têm de quem não teme nada. Uma certa empáfia machista. As ousadias costumam ser tão valentes quanto insensatas, parecendo que a vontade de demonstrar coragem, bravura, valentia, ou qualquer estado de superioridade, elimina o senso de responsabilidade, autocuidado ou preservação.

No Brasil, os homens vivem, em média, 7 anos a menos do que as mulheres. A violência legitimada é, em grande medida, responsável por isso. No exército e na polícia a maioria é de homens. Também são os homens negros as grandes vítimas do racismo institucional.  E esse é um assunto bem sério.

Jackass

Jackass

Mas o que me inspirou foram essas “brincadeiras” na internet e o fato de que, mesmo em situações em que não são obrigados a arriscar a saúde ou a vida, esses homens se divertem enfrentando situações perigosas. Ou querem provar a qualquer custo o quanto são machos. E ser macho não permite sentir medo. Ser macho obriga a parecer durão frente a qualquer situação, a defender o ponto de vista com unhas e dentes, mesmo que seja completamente equivocado.

Há algo de patético no momento em que perdem o controle das brincadeiras. Como se, naqueles momentos em que estão sofrendo as consequências de seu comportamento, fosse possível vislumbrar outras possibilidades de ser homem. Onde é possível se perguntar por que tenho que ter sempre razão? Por que tenho que ser sempre o melhor, ou o mais forte, ou o mais rápido? Por que preciso que todos pensem que sou durão, ignorando a gama de sentimentos que todos os seres humanos têm para experimentar na vida?

Quando um homem percebe que pode, sim, sentir medo, insegurança, fragilidade e até se emocionar com algo belo, ou chorar por amor, por saudade, por tristeza, a humanidade melhora um pouco. Afinal, não somos menos homens quando somos educados. Não somos menos homens quando agimos com gentileza. Nem somos menos homens quando permitimos a delicadeza.

Felizmente, há um crescente número de grupos de homens que se reúnem para discutir essas questões. Como perceber no cotidiano quando estão sendo machistas? Como tratar com educação e igualdade as mulheres e os outros homens? Como exercer a paternidade sem parecer que estão ajudando as mães e, sim, cumprindo um papel que também lhes cabe? Como resolver impasses e desentendimentos com diálogo e empatia?  

Em tempos que homens públicos se orgulham de sua grosseria, de sua violência e de sua capacidade de matar, é um alento perceber que existem muitos homens que estão indo na contramão dessa violência. Buscando estar no mundo em mais harmonia com o planeta, com as outas pessoas e consigo mesmos. Buscando não apenas viver mais, mas viver melhor.

Renato Farias

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