Coletivo Indra

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Porte Vida e Não Armas

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Um tema tem me incomodado em certas discussões on line e na vida cotidiana: Porte de armas.

Sei que é polêmico, que suscita debates mas todos são direcionados por mentes dualizadas e por vezes egóicas. A defesa do livre porte de armas para os ditos “cidadãos de bem” tem sido pautada por uma ilusão que todos nós somos cidadãos de bem e que a sociedade brasileira é ética o suficiente para portar uma Magnum .44 ou uma Glock 17 sem a sensação de superioridade e de impunidade. Não precisamos de grandes análises nem grande quantidade de QI para verificar que o nível ético que vivemos é tão medíocre que qualquer elemento que fornece poder ao mais incapacitado intelectualmente vira objeto de promoção, lucro ou projeção.

Miremos algumas situações cotidianas. Basta andar pelas ruas de São Paulo ou Rio de Janeiro para vermos inúmeras discussões no trânsito. Fechadas, batidas, ofensas contínuas. Vamos a um estádio de futebol e vamos ouvir incitações racistas e homofóbicas. Saímos a noite para a balada e vemos assédios múltiplos regado a bebidas e drogas. Vemos cada cidadão dito de bem tentar tirar vantagem da fila do supermercado, da vaga de deficientes, da ingenuidade dos mais fracos. Um bullying escolar ou universitário, um trote mais forte oprimindo o calouro que chega. Briga de bar entre bêbados em uma tarde de sábado. Discussões por ciúmes entre casais.

Isso é o que temos hoje. Agora, adicionem uma Taurus 380 na mão de cada uma das pessoas acima e imagine o que aconteceria. Não sejam ingênuos porque aconteceria. Não somos uma sociedade que controla o coletivo como a japonesa ou a escandinava. Somos um bando de oportunistas sociais e egocêntricos que temos sempre que mostrar quem é o senhor feudal, quem manda e quem obedece. Sempre temos o ímpeto do “sabe com quem está falando?” e imagine isso com uma .765 apontada para o seu nariz. Porque é isso sim que vai acontecer. Não seja ingênuo. E ainda o inocente do outro lado da rua vai tomar um tiro que saiu de uma briga e morrer sem nada ter a ver com isso.

Alguém pode justificar que somente com laudo psicológico, cursos, provas e controle defende-se a posse de armas. Pois bem, em um país que se paga para liberar multas, para conseguir CNH, consegue-se laudos médicos falsos para faltar ao trabalho e a molecada em geral tem RG falso para entrar em balada, me parece uma ingenuidade quem propõe isso, como se o Brasil fosse a Suécia. Em uma liberação geral para porte de armas só para “cidadãos de bem” diante da falta de ética generalizada que temos, imaginem também “jeitinho” para se conseguir uma “arma baratinha”, o mercado negro, o contrabando. A corrupção.

Não, não temos condições éticas para andarmos armados, não temos envergadura social para carregar tanto poder de vida e de morte.

Ah! “mas sensei, o bandido tem armas!”; sim tem, mas pensar em ter uma só para combater a bandidagem com as próprias mãos é um pensamento ingênuo e dual porque não é isso que incomoda, mas todas as outras situações que parece que todos ignoramos, como se fossemos seres iluminados andando pelas ruas.

Como diria Mestre Shinran, “dadas as causas e condições e se meu karma permitisse, eu poderia matar mil pessoas”. Então, quem é o “cidadão de bem” empunhando uma pistola?

A solução? Para mim a solução para a ética é a educação. Se quisermos consertar a mente dos brasileiros temos que nivelar a educação a padrões muito mais altos, pois através da informação e da prática do bem coletivo é que teremos uma sociedade mais ética e justa. Não adianta esperar grandes ações e movimentações sem um povo com conhecimento. O problema é que um povo com conhecimento pára de pensar de forma dual, pára de ser ludibriado por políticos e embusteiros, pára de ser controlado pela religião. E quem quer isso?

Meditem!

Maurício Hondaku

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