Pretagonismo ou protagonismo negro é uma expressão fictícia, criada para explicar um pouco algo que não temos há muitos séculos. Nós no caso negros.

Uma enxurrada de informações, notícias, imagens, perfis nas redes sociais invadiram nossos últimos dias. Artistas brancos cedendo suas contas em redes sociais a outras pessoas pretas para que sim, pudessem falar e serem ouvidas. Bem válido. E se vocês atentarem a alguns comentários bem racistas nessas ocasiões, saberão o quanto esse movimento é necessário. Perder seu protagonismo branco é um bom começo.

Mas queremos mais, queremos tudo!

As múltiplas, bem arquitetadas e (nem tão) novas formas de racismos se escancaram de vez, saem das profundezas mostrando suas caras. Não, não é bem assim. O racismo esteve e sempre estará por aqui porque estamos fazendo a coisa errada para combatê-lo. Estamos tentando acabar com o racismo, mas isso está no foco errado.

O racismo em si é uma situação criada, alimentada e bem nutrida por um sistema bem enraizado e adubado, cuidado com zelo diário.

Estamos tentando acabar com o racismo, mas o correto mesmo é acabar COM OS RACISTAS!

Percebam que sempre a frente, ou por detrás de uma situação racista, o/a cidadão/ã após ser pego e corrigido usa sempre de argumentos batidos e básicos: pede perdão porque não sabe muito do assunto ou não sabia o que falava. Depois em seguida argumenta que sim, tem muito que aprender, e consequentemente, quando essa situação é extrema, pesada, vem sempre com a frase de que “tenho amigos negros, minha bisavó era negra, e blé,blé,blé”.

Aí está o erro. Admite-se, aceita-se, mas nada se faz para ensinar a essa pessoa que ela está e sempre esteve errada. E antes de mais nada: NÃO! Isso não é uma tarefa da negritude. Cabe a vocês brancos entender do que estamos tentando falar aos berros há séculos. Se aprenderam sozinhos a discriminar, que aprendam sozinhos a não fazê-lo. Nós negros já estamos bem cansados de teorizar há séculos, literalmente, explicar reexplicar e “rereexplicar” e NADA! Você sabe muito bem o que faz/diz e o que sempre disse e fez. A diferença é que agora as informações se espalham e as provas estão ali, na cara! ( ou como bem disse Will Smith “agora eles estão sendo filmados”).

A essa altura do texto você deve estar se perguntando o que fazer. Primeiro te digo o que não fazer: parem de querer explicações, palestras, falas, oportnunizar pessoas  pretas com uma pauta criada por vocês. Isso não é nos oportunizar a nada, é nos criar um “job” e pior, geralmente sem remuneração (que nem preciso dizer o que isso lembra né?).

Você sabe onde achar informações. Você sabe como verificar a veracidade de tudo. Na hora do erro e do escândalo você pensa em nos ouvir, mas e antes? Não o fez porque não quis. Nós realmente cansamos de toda essa falácia de “quero te escutar”. Vocês não ouvem. Vocês escutam o que querem e aquilo que combina com sua própria noção de algo que não existe. É preciso sim conversar, mas nós já fizemos isso há séculos. Sabe aquela professora que está dando a aula da matéria que vai cair na prova, e você não está prestando atenção porque acha que sabe, ou porque o colega vai te passar a matéria? É mais ou menos isso.

Quem você realmente acha que criou a divisão do ser humano em raças e que negros são raça inferior? Pense nisso.

Não me venha com raça humana. Isso é uma balela imbecil de uma uma tentativa de inclusão. Pense: se querem nos incluir é porque sim estamos/somos excluídos. E aí eu pergunto: há como se autoexcluir de uma vida digna e sem preconceitos?

Estou realmente feliz com tudo isso. A branquitude se digladiando e sendo exposta em vídeos, processos e tudo mais. Está longe de ser ideal, mas é bom pra sabermos quem usa mascar e quem está afim de ajudar realmente. Não use do argumento de que o mundo está chato e mimizento, e que nada pode agora. Nunca pôde. Se você sente falta da liberdade de fazer piadas ou comentários racistas, gordofóbicas, transfóbicas, homofóbicas e afins, é porque você é o problema e não o mundo.

O politicamente correto não existe, existe o que é correto e pronto, e o correto é não discriminar ninguém.

Pense bem: se a dificuldade de acabar com o racismo é porque não olhamos com atenção aos racistas, é porque você não está identificando bem. E aí é que pergunto : você está realmente preparado pra acabar com o racismo sabendo que para isso terá de identificar o racista, que pode ser seu pai, sua irmã, sua mãe seu namorado(a) ou até você mesmx?

Ah! Antes que você diga que negros são racistas também, lembre-se que a maior vitória de um ignorante perante um carrasco não é acabar com ele, é ser ele. E é por isso que a branquitude está ainda incitando os negros a pensarem assim.

Texto cruel e raivoso? Talvez.. Mas que tal voltarmos há 1500 quando milhões de ind... ( segue uma longa história)

obs: esse texto foi escrito como um alerta aos racistas. Se algo nele te ofendeu já identificamos mais um racista por aqui.

Valéria Barcellos

Instagram @valeriabarcellosoficial