Coletivo Indra

View Original

Refugiar-se

Refugio: Aquilo que serve para amparar, para proteger ou confortar; amparo.

Etimologia (origem da palavra refúgio). Do latim refugium.ii.

Meu querido amigo e colega de Blog, Jean Tetsuji já trouxe em suas colunas a palavra refúgio diversas vezes, aos olhos do budismo. Ao começar a frequentar o budismo você é de cara apresentado a palavra “refúgio”. E este refúgio pode ser, desde algo mais complexo, como refúgio no Buda Amida ou como um refúgio no colo de um amigo de sangha (comunidade). Mas deixo maiores explicações budistas para o querido sensei.

Eu trago a palavra refúgio e a sua etimologia hoje como uma ferramenta para refletir sobre REFUGIADOS! Refugiados estão procurando o que além da sobrevivência?

AMPARO, PROTEÇÃO e VIDA!

Toda vez que acontece algo como o ataque ao Al Janiah, neste primeiro de setembro em São Paulo, um ataque violento e xenofóbico eu me estremeço. Isso só para falar de Brasil, sem contar os atentados terroristas pelo mundo contra a vida por motivos étnicos, eu me compadeço.

Assim como ao andar pelo centro da cidade de São Paulo e ver tantos refugiados em serviço informal ou perambulando pelas esquinas em busca de “refúgio", falando línguas diferentes, com cores e vestes plurais, eu me sinto no Brasil.

Sim no Brasil! O Mundo cabe no Brasil !!! Este grande caldeirão, que cozinha um caldo de raízes indígenas, negras, européias, asiáticas, e tantas outras. Salvaguardando os povos originários e os negros que para cá vieram escravizados, os demais vieram atrás de refúgio, tanto os refugiados como os imigrantes.

Registro do meu Bisavô Haviaras

*poucos documentos que temos, das outras famílias se perderam.

SOMOS UMA TERRA DE REFÚGIO, UM PAÍS QUE TEM EM SUA FORMAÇÃO POVOS ORIGINÁRIOS, NEGROS E GERAÇÕES DE REFUGIADOS E IMIGRANTES DEVERIA SER POR EXCELÊNCIA UM PAÍS ACOLHEDOR!

Se nós fizéssemos ao nascer, assim como o teste do pezinho, o teste de hereditariedade, seríamos apresentados a uma pluralidade de culturas em nossa genética que nem imaginamos. E esta pluralidade significa ser brasileiro. Nós que temos o hábito de afirmar com frequência que somos descendentes deste ou daquele país, deveríamos dizer mais que somos BRASILEIROS!

Certidão de casamento dos meus bisavós Dornbusch Haviaras

Por que o assunto sobre refugiados me estremece? Eu sou brasileira e neta de refugiados e povos originários e negros. O pouco que sei das minhas gerações para trás, são refugiados de guerra: sírios, franceses, alemães, gregos, italianos e que se misturaram com negras e indígenas. Pessoas simples que atravessaram oceanos em busca de sobrevivência, trabalho, uma vida possível com suas famílias para dar sentido a suas existências. Eles me deram de presente uma paixão pelas etnias, culturas, paladar curioso, línguas e uma capacidade de me reinventar nos meus recomeços e lugares diferentes. E não diferente da minha diversidade na raiz étnica, eu dou sequência a esta história me casando com um brasileiro, muito japonês para ser paraibano e muito paraibano para ser japonês.

O não acolhimento me estremece. Não ter refúgio me transtorna, pois o refúgio é um dos pilares da sobrevivência.

Onde quero chegar?

Por que um país que tem em sua formação uma mistura de etnias pode vir a ser violentamente xenofóbico?

Por que o país que tem o passaporte mais falsificado do mundo, pois as cores dos povos do mundo cabem em nossas fotos 3x4, pode ser um país com tanta discriminação étnica?

Por que um país que tem em sua formação o acolhimento de refugiados e imigrantes não possui ferramentas de políticas públicas para acolher os refugiados de hoje?

Por que excluimos?

Por que apontamos as diferenças para discriminar?

Por que negamos nossas origens?

Gabriela Bonnassis Naaras Dornbusch Haviaras da Silva e Silva, de Oliveira Asao, brasileira.

Instagram @gabyhaviaras
Siga no instagram @coletivo-indra