Coletivo Indra

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Sinodo Amazonense

Flor de lótus

O que tem a ver uma capinha de celular vinda lá da China, minha viagem de férias para Europa, embates políticos sobre dados alarmantes, alterações climáticas drásticas e uma governabilidade baseada em achismos de retrocesso sobre o meio ambiente?

Consumo e poluição!!!

Esta semana começou o Sínodo da Amazonia no Vaticano, uma importante iniciativa para tentarmos repensarmos o que estamos fazendo com o único espaço que temos, o nosso planeta. Em pouco menos de cem anos, alteramos mais o meio ambiente que dez mil anos de história de sociedade registrada. Nossas ganâncias e desejos consumistas irrefreáveis no consumo está resultando um alto preço já cobrado em notas promissórias.

Penso que por muito tempo, o conceito que Deus criou o mundo para o homem lhe deu o direito de explorar-lo sem questionar sua relação com a natureza. Muito que o fizeram, não tinham o poder em suas mãos, entenderam o perigo. Entendemos que tudo foi criado a nosso favor, mas não nos explicaram como usar tudo isso. Não tivemos uma “Manual de Instruções do Planeta Terra". O planeta definitivamente não precisa de nós, mas nós sim precisamos dele, e muito. Se a espécie humana se extinguir neste momento, o meio ambiente, o universo e tudo mais continuará seu ritmo sem se preocupar com nossa falência.

No olhar budista, somos apenas existências manifestadas. Felizes acasos, como muitos cientistas tem proposto. Pensar assim baixa a guarda dos nossos egos da invencibilidade. E como humanos são competidores! Não tenho nada de especial em minha existência. Apenas vivo.

Shakyamuni se resplandece em sua meditação ao reconhecer com profundidade a vida humana. Percebe o quão é difícil nascer em meio a inúmeras causas e condições em concordância onde tudo e todos estão interdependentes. Precisamos preservar a vida. Nascemos na condição humana para despertar sobre a nossa própria tragédia, mas também despertar à nossa natureza de onde tudo provém e para onde tudo retorna, e nada fica.

Nascer humano é uma oportunidade rara e preciosa. Despertemos para nossas finitude. O budismo é uma religião ecológica ele percebe a grande cadeia de equilíbrio da vida e nos convida a pensar como estamos inseridos nela. Muitos dos ensinamentos do Iluminado são baseados na natureza. O ego nasce da ideia que não querermos morrer e é rompido quando percebemos que somos apenas uma unidade da Vida Infinita (representado pelo Buda Amida, apresentado em outro post). Não há budismo sem ecologia, não há meditação sem um planeta morto!

Gostaria de reproduzir aqui um trecho do Manifesto dos 50 anos da Federação das escolas Jodo Shinshu, a qual eu pertenço.

“Shinran Shonin, que fundou a escola Jodo Shinshu, mostrou a natureza dos seres humanos com a expressão “a realização dos seres cheios de paixões cegas”. Eles não conseguem se libertar das paixões cegas que os prendem ao sofrimento. O que se manifesta nesse ensinamento é que somos todos iguais compartilhando a mesma condição de não poder se desapegar desses desejos e a partir deste compartilhamento podemos começar a caminhar juntos. O que necessitamos hoje não é um grupo restrito de pessoas sábias, mas a recuperação dos relacionamentos interpessoais mais amplos e ricos com diálogos mais abertos entre as pessoas. Essa recuperação nasce da conscientização de que somos todos iguais dentro da compaixão do Buda que nos abraça em momentos de tristeza e sofrimento.”

O Buda ensina que a mente pode ser dirigida para o conhecimento supremo e iluminado, mas quando não domada, parte ao inferno sombrio como um cavalo selvagem. Quando não conhecemos a nós mesmo, como funciona nosso meio, sem nos entendermos nessa interminável malha da vida onde tudo e todos estão interconectados e interdependentes, criamos uma guerra dentro de nós mesmos. A ignorância nos faz violentos.

Que esse Sínodo nos faça repensar nossos hábitos, sensibilize autoridades redesenhar modelos de sociedade de consumo mais sustentável, porque a hora que acabar, não há reposição de estoque. E esperar outra casa pode levar uns quatro bilhões de anos.

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Rev. Jean Tetsuji釋哲慈
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