Coletivo Indra

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Sobre afetos e encontros

Shinobi

Vivemos a todo tempo afetando e sendo afetados, e enquanto algumas pessoas entram em nossas vidas despertando e estimulando o que em nós há de mais positivo, por outro lado, há aquelas que parecem minar qualquer possibilidade de sermos e exercitarmos o nosso melhor. Esses bons e maus encontros com os seres e coisas, nos diz Espinoza, definem a potência com a qual agimos no mundo, nos fazendo mover pela alegria rumo à expansão e ao crescimento ou nos recolher pela tristeza no retrocesso ou estagnação.

Para Espinoza, o afeto é ao mesmo tempo uma afecção do corpo, algo sentido como uma sensação ou experiência, e uma afecção da alma, uma ideia, que aumenta ou diminui, ajuda ou contraria a potência de agir do ser. A origem dessas afecções, segundo ele, está no encontro com outros seres, que são exteriores, e com os quais se estabelece relações de conflito, união, etc. Espinoza afirma que é da natureza de todos os corpos, incluindo o humano, afetar e ser afetado por outros corpos. Assim, no encontro temos o efeito de um corpo sobre o outro; um corpo agindo sobre o outro e acarretando modificações na potência de agir de cada um dos envolvidos.

Quando falamos de potência falamos de relações energéticas, de forças que agem uma sobre a outra. A vida é uma dança constante de encontros a partir dessas relações. Se nessa dança, os corpos combinam, se movem como uma unidade, as forças se somam e acontece um aumento de sua potência, gerando alegria, que se traduz em ação. Para o filósofo, esse é o bom encontro. Porém, se na dança os corpos não acertam o ritmo, se desencontram, uma força impede a ação da outra e, consequentemente, a deteriora, o que leva ao enfraquecimento e diminuição de potência. Esse enfraquecimento gera tristeza, que se manifesta como falta de ação, passividade. Daí resulta o mau encontro.

Não raramente, mantemos relações que nos trazem mais frustrações do que contentamento, que mais sugam do que nos alimentam de energia, e não cessam em criar obstáculos ao nosso potencial de ser e realizar no mundo. Também não raramente, custamos a conhecer ou reconhecer isso como verdade, e nos mantemos na vida dançando ao ritmo desses maus encontros.

Afirma Espinoza, a saída está na lucidez, na capacidade da mente de analisar seus afetos, e usar a razão para não se perder nesse encadeamento das paixões tristes. Conhecer a fundo nossa relação com o mundo é ter a chance de escolher melhor nossos encontros, ser ativo na geração dos afetos, e alimentar nossa potência em ato para ser e agir.

Ser ativo na geração dos afetos é dizer fim aquele relacionamento falido, dizer não para aquele convite que é a entrada para futuras frustrações, é dar aquele "unfollow" necessário... É o autoconhecimento e o reconhecimento de nosso valor e a escolha pela união com aqueles que poderão nos acompanhar em nosso caminho de evolução e realização.

Germana Belo

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Germana Belo
Psicóloga de formação e roteirista por vocação, entre um café e outro, escreve sobre as coisas que lhe ocupam a mente e o coração.