Sábado de manhã, bem cedo, acordei com o toque do interfone, que fica na cozinha do apartamento. Ainda meio dormindo, atendi. “Seu Renato?”, perguntava Robinho, que trabalha no prédio. “Tem um macaco na sua cozinha”...

Meu cérebro, confuso entre seguir sonhando e acordar de uma vez, chegou a questionar se aquilo tudo não era a sequência de um sonho. Afinal, era eu que estava na cozinha.

“Mas eu estou na cozinha”... A esta altura, o macaco já havia saído e jogado um saco de amendoins na cabeça do Robinho. Se não gostou da marca do amendoim, ou se sentiu traído pelo dedo duro, jamais saberemos.

O fato é que ele deve ter se assustado com o interfone, ou com minha aproximação que, mais dormindo que acordado, nem dei por ele quando cheguei na cozinha, e saiu correndo. Depois percebi seus rastros: as bananas maduras que estavam sobre o balcão, remexidas, as pegadas no basculante da cozinha, a ausência dos amendoins...

Desde então durmo com todas as janelas fechadas. Ainda bem que, acredite, está fazendo muito frio no Rio de Janeiro.

Hoje pela manhã, ao abrir as janelas, pensei se meu amigo macaco já havia desistido da minha cozinha. Foi quando vi um bracinho peludo se esgueirar pela janela. Num rápido reflexo fechei tudo novamente e imaginei se ele daria a volta no telhado para entrar pela varanda do quarto.

No segundo seguinte lá estava ele, no meio da sala. O olhar me perguntando se eu ia mesmo comer sozinho aquela quantidade de bananas. Quem se assustou mais, se eu com a aparição dele, ou se ele com meu grito, também jamais saberemos.

Ele lembra muito a Chita. Daquele tamanho médio que se aninha perfeitamente no colo de um humano. O que, aliás, me deu muita vontade de fazer. Por que não acolhê-lo? Afinal somos vizinhos. E fica sempre a pergunta: qual de nós dois é o verdadeiro invasor?

 O MILÉSIMO VIZINHO

Falando em vizinhança, nossa peça/filme VIZINHOS já ultrapassou a marca de mil visualizações. Algumas críticas lindas, muitos retornos adoráveis de amigos e a sensação de ter criado uma obra que se comunica com amor com quem assiste, me trazem uma ponta de esperança. Mesmo assaltados por gângsters na presidência, como bem assinalou Spike Lee, ainda temos potência criativa para resistir a tantos desmontes, entre eles o da cultura. Que venha uma nova Lei Aldir Blanc para que possamos realizar novos trabalhos.

E você, já assistiu VIZINHOS?

A temporada vai só até dia 18 de julho. No YouTube da Companhia de Teatro Íntimo. É gratuito. Não perca!

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