Coletivo Indra

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TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO…

Arquivo pessoal

Hoje me olhei no espelho e tomei um susto! Me assustei com a pessoa que vi me encarando dentro do espelho. Claro que se tratava de mim mesma, de meu reflexo. Mas quem sou eu agora? Por um instante não me reconheci.

Tinha uma imagem completamente diferente do que estava vendo naquele momento. Na minha cabeça meu sorriso era mais jovem. Tinha uma meiguice arredia no olhar. Agora tentava achar mas estava distante atrás de um olhar forte mas sereno. Me deparei com uma penugem branca que tentei tirar achando que era excesso de hidratante capilar e vi que não. Eram os meus cabelos brancos que de uma hora para outra proliferaram na superfície mais externa de meus pensamentos declarando a todos a extensão do caminho percorrido. 

Abaixei-me para pegar a pinça que caiu de minhas mãos e percebi um volume ao redor de mim que não existia antes. Estava mais pesada. Preenchida das marcas de uma maternidade, de um sonho romântico desfeito, de outros vividos e alguns apenas sonhados; de ombros levemente curvados por um ligeiro cansaço das batalhas travadas ( muitas vencidas e outras perdidas mas sempre aprendidas). Os pés já sentindo o peso do corpo de forma mais intensa. Os quadris alargados para passagem da vida que a onze anos se fez viva e bela renovando a existência de forma paradoxal, subjetiva, mágica, constituindo uma das “coisas mais belas e mais perfeitas de toda criação inumerável” parafraseando o poetinha.

Meu olhar se ateve àquela pessoa que me encarava tão surpresa quanto eu, admirando, reconhecendo cada pedacinho de si em mim e me surpreendendo com as micro descobertas. Um filme passou pela minha cabeça... não consegui lembrar de todas as 42 (em breve 43) paradas do expresso vital nas estações dessa via férrea em que nos encontramos desde o primeiro instante traduzido num choro de frio, medo e placenta. Mas me recordei de vários momentos dessa viagem de forma aleatória, sentimental e não cronológica.

Percebi que estou chegando muito perto da metade do caminho (isso na nossa doce ilusão de controle de nossa trajetória). Então é assim que se é quando se chega aqui?

A cabeça tem uma idade, ideia, imagem, de si, de mim, e aquela pessoa que me encara me apresenta uma outra coisa. Nem melhor, nem pior, mas ... diferente. 

“Senti um abraço forte mas não era medo. Era uma coisa sua que ficou em mim e não tem fim. De repente a gente vê que perdeu ou esta perdendo alguma coisa morna e ingênua que vai ficando no caminho. Que é escuro e frio mas também bonito porque é iluminado pela beleza do que aconteceu a minutos atrás”

Diante do espelho vi um sorriso tímido, discreto, um olhar acolhedor e afetuoso e ouvi dentro de mim:

_ Muito prazer! Eu. Você. O tempo...

Tati Tiburcio

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