Um lembrete
É tão difícil viver a dor que dói na gente. Seja física ou não, seja forte ou mais fraquinha, ela parece que não nos deixa em paz. A gente tenta lidar com ela, ignorar, mas continua lá, as vezes de uma forma que ocupada todo o nosso tempo, noutras parece apenas como um lembrete de algo que não vai bem.
Um monstro, ou uma sombra. E é por isso que é tão importante que uma luz consiga atingir essa dor. Porque uma vez a gente a deixa, a dor, tomar conta, até se transformar em algo muito maior, nós perdemos o rumo.
Chegamos a acreditar que não é possível superar. É muito difícil estar no meio do furacão, porque ele é sempre um lugar de incompreensão. Ninguém talvez consiga te compreender já que sua dor é única.
E ela é mesmo e merece ser olhada, não comparada ou diminuída por quem quer que seja, ou você mesmo.
A gente já superou tanta coisa, mas tem horas que parece que o muro é tão alto que não tem como escalar. Ou esquecemos de procurar uma porta, ou de ver se é possível contornar. E tem horas que é mais difícil ainda perceber que a solução está nas nossas mãos e no que faremos para resolver esse problema, essa dor.
É nossa responsabilidade lidar com isso, que é único. O que não significa que a gente não precisa de ajuda. Ou que ouvir os outros não é necessário. Ninguém é nada sozinho. E ninguém está completamente sozinho.
E é por isso que é tão importante lembrarmos que estamos conectados com o todo, e deixarmos receber os afluxos disso. E ao mesmo ter consciência do nosso papel social diante disso.
Porque tem vezes que só dói na gente o que também leva a doer em muitos outros.
O mundo está sempre nos cobrando um desempenho que por vezes está além daquilo que somos capazes de oferecer, ou do que é possível de ser feito. E sempre algo que deve ser rápido, sem tempo para reflexão e sem espaço para o erro. O direito ao tempo interior é retirado. E nos é exigido que a gente dê conta de tudo, o tempo todo.
Hoje sequer há tempo para o sofrimento e para a cura, uma vez que esperar para tanto vai de encontro ao que a sociedade nos exige de modo muito violento atualmente. Nós vivemos a era do excesso e da auto coerção.
Mas é essencial tornar possível que nos permitamos sofrer para que não adoeçamos ainda mais.
É essencial que a gente aprenda a deixar passar para lá e a enxergar certas coisas com mais calma, exercitando nossa capacidade reflexiva que é o que, no limite, faz dos seres humanos algo único no planeta.
Podemos acalmar a nossa mente transformando a cacofonia numa verdadeira sinfonia. O sofrimento é inescapável, mas mostra a nossa resiliência. Mostra que não estamos sozinhos e que é sempre possível avançar. Independente de quantas pedras, independente de quanto queiram nos destruir.
Arthur Spada
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