Um Plot Twist nas histórias dos homens
O que se espera deles?
Por padrão, dos homens brasileiros se espera virilidade e macheza, ou seja, que saibam todas as respostas, que tenham poder, segurança, estabilidade, força e prontidão sexual. Que sejam protagonistas, provedores e não demonstrem sentimentos ou fraquezas.
Os resultados desse roteiro há muito são estudados, medidos e analisados em pesquisas, censos e dados oficiais.
Esses dados revelam que os homens, além de serem os presidentes das empresas que mais poluem e degradam o ambiente e os responsáveis por quase todas as guerras já travadas na história, são no Brasil:
94% dos 773.151 presidiários existentes em 2019;
88% dos mortos por doenças alcoólicas do fígado;
95% dos óbitos causados por agressões envolvendo armas;
76 % dos casos de internação por lesões, envenenamentos e outras lesões de causas externas;
80% dos que morrem com idade entre 20 e 30 anos.
82% dos casos de internação por traumatismo craniano.
90% dos suicídas*
Vivem em média 7 anos a menos que as mulheres e com menor qualidade de vida, pois não procuram ou aceitam tratamentos médicos e terapêuticos. Esses números indicam que algo vai mal. Muito mal. Que se faz necessário uma reviravolta no nosso modo de agir, sentir e manifestar.
Saber de onde viemos e onde estamos é parte crucial para tomar mais sábias escolhas e assim criar o que virá.
Por isso é hora de enquanto indivíduos darmos um Plot Twist no enredo de nossas vidas de homens. Precisamos reconhecer que esse sistema patriarcal, racista, especista, homofóbico, capitalista e misógino prejudica e oprime a todos os seres e também ao planeta. E se muitos indivíduos mudam, a sociedade, as empresas e os governos mudarão também.
Características femininas e masculinas estão presentes em maior ou menor grau em todos os seres, independente de seu gênero. Rechaçar o que é feminino é de uma violência enorme e causa grande parte dos danos e perdas. Dessa forma, eu convido e conclamo a todos a sermos cada vez mais femininos. Para além dos estereótipos. Para além das cascas.
Somos filhos e filhas das histórias que nos são contadas e das que presenciamos. Daí, aprender novas narrativas e acessar conhecimentos de diferentes origens podem ser um ótimo caminho para termos novas escolhas.
Os contos de fadas e histórias com protagonismo masculino do guerreiro, colonizador e conquistador e com mulheres submissas e dependentes já não nos servem para apoiar a criação de novas formas de ser e estar no mundo.
A própria indústria do cinema já percebeu isso e vem mudando aos poucos as histórias, os protagonismos e a representatividade.
Fica o convite para nos aproximar, aprender e apoiar os povos das florestas, dos quilombos, as demais pessoas, iniciativas e coletivos que estão percorrendo os caminhos a serviço da regeneração da Vida e que arrumam tempo para cozinhar, brincar e cuidar das crianças, dos animais, dos próprios resíduos, dançar, ouvir música, plantar e combater com arte e força o machismo, o racismo e o especismo.
Que história você, homem, quer viver e ver passar no famoso telão que contam que acessamos logo antes de morrer? Em que tipo de mundo você quer que seus descendentes vivam?
Em tempos sombrios como esses, sentir dor por tudo o que está ocorrendo e ainda assim conseguir manter o brilho nos olhos, a esperança e por que não, a alegria, é dos grandes ativismos que há.
Alê Girão
Instagram @alexgirão
*Fontes: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/folder/dados_morbimortalidade_masculina_brasil.pdf e www.saude.gov.br/homem