Coletivo Indra

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Vergonha Nacional

Imagem Juli Hermes

AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS SEMPRE “PERTENCERAM” ÀS ELITES.

Os senhores de engenho, os donos do poder, seja no império ou na república, bem como as famílias ricas em geral, sempre deram como certo que seus filhos, após concluir os estudos básicos, ocupariam as vagas das melhores universidades do país. Uma pergunta frequente para as crianças, via de regra de famílias brancas, é: que faculdade você pretende fazer quando crescer?

Já as famílias pobres, via de regra negras, historicamente só se aproximaram das universidades para serviços de limpeza, segurança, cantina, entre outros trabalhos dignos, mas que foram para esses brasileiros, por muito tempo, a única maneira de frequentar um campus universitário.

Isso mudou nos últimos anos. Com o advento das cotas para estudantes negros, surgiram cursos pré vestibulares comunitários e outras formas de investimento em jovens que, aos olhos da família tradicional branca brasileira, sequer tinham potencial para chegar “tão longe”.

Um novo Brasil começou a surgir. Profissões antes inimagináveis para pessoas pobres começaram a ter representantes negros, presentes também em cursos de pós graduação. Resultado: crianças negras passaram a ter onde se espelhar para desejar chegar cada vez “mais longe”. Famílias passaram a comemorar os primeiros universitários de toda a sua história. Comunidades festejaram favelados com diploma de terceiro grau.

Essa revolução silenciosa foi, e em alguma medida ainda é, desqualificada por muita gente. Mesmo com diversas pesquisas comprovando a qualidade dos estudantes cotistas como igual e, muitas vezes, superior aos estudantes não cotistas, os eternos “donos” das universidades torcem o nariz para essa “invasão do seu espaço”.

No atual governo federal, onde o representante máximo sequer pode ser considerado educado no trato interpessoal, a educação pública de todos os níveis (inclusive a básica) acaba de sofrer um grave ataque. Tanto prático quanto simbólico.

Simbólico ao tentar deslegitimar Paulo Freire, respeitado no mundo todo como um dos maiores educadores que já existiram no planeta!

Prático pois, ao cortar verbas, acelera o processo de asfixia e desmonte de instituições que já vem fazendo malabarismos, quando não milagres, para manter a excelência de seus professores e cursos. Excelência essa reconhecida e respeitada mundo afora não só pelo que ensina, como pelo que pesquisa e pela relação que mantém com seus entornos em projetos de expansão.

Enquanto isso, não são poucos os cidadãos que passaram a vida lutando, ainda que teoricamente, por mais educação, que, agora, assimilam a retórica ignorante e mal intencionada dos atuais exercentes do poder, acabando por, inclusive defender (!!!) o corte de verbas.

Tempos tão difíceis quanto estranhos. O que aconteceu com a capacidade de raciocinar de milhões de brasileiros que travestem a sanha privativista da educação e saúde brasileiras de limpeza ideológica e tornam-se cúmplices do empobrecimento intelectual e sanitário do país?

Será que, por terem dinheiro para pagar boas escolas e planos de saúde particulares, sentem-se protegidos e, por isso, defendem a falência de meios públicos onde os pobres podem ter alguma chance de mobilidade social?

Ou será que os dentes cerrados de raiva do senhor, que rouba o chicote do feitor, para assegurar que os açoites serão fortes o suficiente para lembrar ao “negro fujão” ou ao “escravo insolente” quem é o dono dessas terras, hoje assumem novas feições com os dedos simulando armas e o sorriso condescendente diante dos 80 tiros?

Renato Farias

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