Viver é uma experiência radical
“Viver é uma experiência radical”. Foi essa a frase que ouvi de Ailton Krenak há cerca de duas semanas e é com ela que quero abrir a reflexão dessa coluna.
Como anda o nosso Viver?
2020 tem sido um descompasso. Entramos em modo on, engatamos a segunda e caminhamos apressados rumo a um 2021 distópico, carente e fragmentado. Acostumados a negociar nossa humanidade diariamente, buscamos um fôlego para continuar firmes.
Voltando à frase de Krenak, Viver é uma experiência única de momento presente. Só experienciamos o agora e não há espaço de fuga para o carpe diem, ao contrário,
Viver é um convite à lucidez.
A sua radicalidade requer coragem para encarar de frente o Tempo da Vida. Lembrando sempre da máxima de Oxalá, orixá iorubano:
“Todo tempo é tempo”.
Quando se trata da compreensão ocidental de Tempo, há uma lógica de progresso a todo custo, uma ânsia pelo vindouro e uma vontade de dominação. Como se o amanhã fosse o objetivo da Vida, esquecendo-se que o futuro é uma projeção virtual experienciada hoje na elaboração imaginativa do porvir.
Já a relação com o passado é de memória. O fardo dessa memória também tangencia a experiência do Viver, mas o passado em si condiciona-se enquanto piso, pilar e pedra basilar para a possibilidade do agora. Quando nos movimentamos tal qual Sankofa, resgatamos a factualidade do existir para os viventes do ontem e ouvindo os sussurros de antigamente buscamos ecoar um presente.
O corpo é condição primordial para a existência.
Seus atravessamentos testemunham o filme da nossa vida. Corpo é a morada do nosso Ser e enquanto tal deve estar limpo, confortável, harmonioso. Do corpo pra dentro é o lugar do nosso principal bem-estar. Para Viver a experiência do presente, é necessário uma carcaça física.
Viver é a nossa maior responsabilidade.
Gritamos por liberdade, mas não queremos os compromissos de sermos livres. Passei os últimos dias com a frase de Krenak na cabeça, refletindo o quanto estou experienciando a radicalidade do Viver com a qualidade do meu Sol em plenitude.
Aza Njeri
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